
No Brasil, pessoas entre 18 e 24 anos têm histórico de ser as que mais enfrentam dificuldades na hora de conseguir o primeiro emprego pela falta de experiência e de qualificação profissional. O atual quadro da pandemia do novo coronavírus acirrou mais essa situação, provocando impactos ainda maiores na vida social desses jovens e na relação deles com a educação e com a própria família.
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Para apoiar a juventude no difícil momento de transição para a idade adulta, a Legião da Boa Vontade (LBV) desenvolve o programa Aprendiz da Boa Vontade, que, além de focar em estratégias para driblar os principais empecilhos na hora de entrar no mundo do trabalho, oferece subsídios extras aos aprendizes, por meio da aplicação da proposta pedagógica da LBV (conheça mais sobre essa linha educacional da Instituição no boxe da p. 30), de modo a prover seus atendidos com as ferramentas necessárias para que o início da carreira profissional seja uma fase de crescimento, aprendizado e ganho de autoconfiança.
A Entidade deseja com essa ação devolver a esperança a esses jovens, mostrando que eles são os responsáveis pela própria trajetória e que, portanto, há sempre caminhos, quando se acredita, para um futuro promissor.

Nem mesmo durante a crise sanitária provocada pela Covid-19 esse serviço de qualificação profissional parou. Por meio de aulas remotas, a Instituição manteve o distanciamento físico necessário para evitar o contágio e continuou amparando os participantes da iniciativa. Glaucia Ramos Pedro, coordenadora de aprendizagem da LBV em Brasília/DF, conta que, apesar do crescente índice de desemprego, o programa manteve a média de mais de 200 integrantes na cidade.

Outro fato marcante, segundo ela, é que “houve até um estreitamento maior no vínculo com os jovens, pois, por causa do aumento das necessidades, passamos a realizar muitos atendimentos por telefone para apoiá-los, bem como a seus familiares, que vêm de regiões de extrema vulnerabilidade. Existem várias qualificadoras no DF, mas o programa Aprendiz da Boa Vontade destaca-se por não apenas inserir o jovem entre 14 e 24 anos no mercado de trabalho, mas também por ter um olhar social, fazendo um acompanhamento do seu desempenho e do seu desenvolvimento, o que contribui de maneira relevante para a formação cidadã e ética de seus participantes”. Ela explica que a LBV tem estendido o apoio às famílias com cestas de alimentos, a fim de amenizar a situação emergencial por que passam neste período.
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Foi o caso de Rayssa Alves de Carvalho, de 21 anos, residente em Planaltina/DF, cuja chance de aprendizagem surgiu em uma circunstância nunca vivida por ela, em que as sete pessoas de sua casa estavam desempregadas e não tinham conseguido receber auxílio emergencial. “Fui contratada em um momento tenso, durante a pandemia. Foi uma oportunidade gigantesca. Eu me senti muito feliz, senti algo bem diferente e importante, porque, em meio a tantos problemas, consegui um emprego. Além do trabalho, a LBV ajudou a minha família com cestas de alimentos. A minha trajetória na Instituição tem sido incrível, com experiências boas.”
Mais de mil quilômetros de distância separam realidades bem próximas. Em São Paulo/SP, no bairro Santa Cecília, Thais Neri Sobrinho, 18 anos, tornou-se também o arrimo no lar. “Sinto-me privilegiada, pois tantos estão perdendo os seus empregos na pandemia, e eu consegui [uma colocação]. Com o meu salário, posso ajudar em casa, já que sou a única com carteira assinada”, agradece.
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A psicóloga e psicopedagoga Talita Calusni, coordenadora de aprendizagem no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV em Campinas/SP, ressalta que esse é um dos papéis mais notáveis do programa da Instituição: cuidar de adolescentes e jovens em sua totalidade, levando em consideração não apenas a parte profissional, mas também suas emoções, sentimentos, comportamentos, inquietações e questionamentos típicos dessa fase da vida. “Trabalhamos com foco nas habilidades do jovem, valorizamos as atividades em grupo para prepará-los, cada vez mais, ao convívio social. Neste momento de Covid-19, por exemplo, muitos fizeram comentários relacionados à saúde mental, principalmente no que se refere à depressão e à ansiedade, e o tema foi abordado durante um encontro virtual com aprendizes de todo o país”, afirma Talita.

Empreendedorismo: o doce sabor de fazer o que se gosta
Em 2017, quando Victor Hugo Araújo Fernandes, hoje com 24 anos, procurou a Legião da Boa Vontade para se inscrever no programa Aprendiz da Boa Vontade, ele passava por um momento de crise, e o amparo da Entidade foi fundamental para conquistar o primeiro emprego e colaborar com a maior parte do orçamento da sua residência.
Mas, mesmo depois de finalizar o curso na LBV, o jovem não se afastou da Instituição e, recentemente, entrou em contato com seus antigos instrutores para relatar mais uma vitória que alcançou. Morador do bairro de Bangu, no Rio de Janeiro/RJ, alguns meses atrás, Victor viu que podia concretizar antigo sonho de ter o seu próprio negócio e, em plena pandemia da Covid-19, tirou os planos do papel e saiu para a ação, montando uma empresa de doces.

Tudo que aprendeu no curso Arco Varejo foi primordial para o seu êxito, sem contar, é claro, a receita de brigadeiro da mãe, carro-chefe do pequeno empreendimento. “A LBV me trouxe conhecimento para poder expandir rápido. Eu pude tirar minha mãe do serviço de empregada doméstica para trabalhar no conforto de casa. Só de não depender do auxílio emergencial nesta crise, dá muita satisfação. O negócio de doce é o pontapé inicial, todo dinheiro que entra é investimento para o meu futuro.”
Tornar-se um empreendedor foi, segundo o rapaz, apenas um dos vários aspectos positivos de estar na Instituição. “Eu era bem mesquinho e arrogante. A LBV me desenvolveu como profissional nos módulos que eles apresentavam no curso, mas principalmente como pessoa, porque pautam muito o trabalho em equipe, a comunicação, a empatia e a Solidariedade. Em todo o projeto é aplicada essa parte de coletivo, e isso influencia bastante a minha trajetória hoje”, finaliza.
Exemplo e incentivo para outros jovens



Escola de Capacitação Profissional Boa Vontade
Outra ação da LBV que teve continuidade neste período de distanciamento social é a Escola de Capacitação Profissional Boa Vontade, em São Paulo/SP, por meio do curso técnico em Rádio e Televisão, com foco no eixo tecnológico: Produção Cultural e Design. A iniciativa visa contribuir para a inserção ou reinserção dos alunos na economia criativa e no Setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (STIC), oferecendo a eles conhecimento em uma função específica, que os alocarão no mercado de trabalho com segurança e confiança nos seus conhecimentos teórico-práticos.
Voltado a jovens e adultos que estão na 3ª série do Ensino Médio ou que já o tenham concluído, o curso técnico disponibilizado pela LBV é o segundo totalmente gratuito da cidade a conceder DRT na área de comunicação. Essa é a oportunidade de que muitos deles precisam, a fim de construir uma realidade melhor a si mesmos e para participar ativamente da sociedade.
Vale ressaltar que, neste período de pandemia, os alunos receberam, desde março, materiais de apoio para que mantivessem constante contato com o conteúdo do curso, a exemplo de textos, matérias, vídeos da internet e sugestões de lives, com caráter complementar às atividades eletivas.
Desde 17 agosto, a escola deu início também às aulas remotas das disciplinas teóricas de Direito Aplicado e Ética Profissional, Gestão da Comunicação e Mídias Digitais, Empreendedorismo e Oficina de Criação Audiovisual. Para isso, estão sendo utilizados fóruns colaborativos à distância, vídeos da internet e/ou gravados pelos próprios educadores e, como principal atividade, um espaço virtual que funciona como sala de aula on-line para os estudantes tirarem suas dúvidas, de forma a garantir que a aprendizagem esteja acontecendo conforme o esperado. Outras medidas estão sendo tomadas para que, em breve, as matérias práticas possam igualmente estar ao alcance deles, de maneira semipresencial, até que tudo se normalize.