Combate à fome

Restrição alimentar avança no Brasil, e a LBV amplia seu trabalho levando, além dos gêneros básicos, frutas, verduras e legumes à mesa de quem mais precisa

Kauã Roger

Diego Ciusz
Ficar em casa tem sido a principal recomendação das autoridades sanitárias aos cidadãos, a fim de que estes se protejam contra o contágio do novo coronavírus. Consequentemente, as famílias têm feito mais refeições em seus próprios lares, sendo afetadas pelos altos preços de produtos essenciais. Por conta das implicações na logística de distribuição dos alimentos durante a pandemia, da alta do dólar incentivando as exportações, das mudanças climáticas, entre outros fatores, um saco de cinco quilos de arroz, por exemplo, está chegando a custar R$ 40 em alguns supermercados. O feijão, dependendo do tipo, subiu mais de 30% no ano, segundo dados da inflação oficial.

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Para as camadas mais pobres da população, que, mesmo antes da pandemia, mal garantiam as refeições básicas, a situação está ainda mais difícil. Comprar itens de hortifrúti então, para muitos, é um luxo, embora se saiba que é preferível consumi-los em lugar de comidas industrializadas, geralmente prejudiciais à saúde. Com baixo valor nutritivo, vários conservantes e altas calorias, estes podem, a médio prazo, deixar seus consumidores mais vulneráveis a desenvolver doenças como a obesidade, o diabetes e a hipertensão, comorbidades que são fatores de risco neste momento diretamente ligadas à pandemia do novo coronavírus.

Rosana Serri

Ciente da necessidade de proporcionar refeições saudáveis a seus atendidos, a Legião da Boa Vontade (LBV) já entregou a famílias que se encontram em risco social, desde o início da campanha SOS Calamidades, em março, mais de 1.500 toneladas de doações, as quais englobam cestas verdes, de alimentos perecíveis e não perecíveis, além de kits de limpeza e de higiene. Nos últimos meses, com a colaboração de vários parceiros, a Instituição tem procurado ofertar, cada vez mais, frutas, verduras e legumes a essas pessoas. O Mesa Brasil Sesc, rede de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício, tem sido fundamental nessa empreitada, juntamente com bancos regionais de alimentos.

Outro grupo que, com sua Solidariedade, está permitindo aos mais pobres ter um prato de comida nutritivo é o dos produtores locais, a exemplo de Iran de Moura, que vende bananas na Ceasa de Natal/RN. “Quando tem a mercadoria [à venda por considerável tempo], em vez de deixarmos que ela estrague, fazemos doações para a LBV. É muito bonito o trabalho [da Instituição] levando essas frutas até as famílias mais carentes, para aquelas que precisam, e não têm condições de comprar. Como temos essa disponibilidade [de repassar parte das bananas], fazemos parceria com a LBV e sabemos que é bem distribuída. É um prazer ajudar o próximo”, declara Iran.

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A união desses amigos de Boa Vontade tem beneficiado milhares de pessoas. A família de Maria Edileuza Bezerra, por exemplo, foi uma das 50 beneficiadas, em 11 de setembro, na Comunidade Tiradentes, que pertence ao bairro de Felipe Camarão, em Natal/RN, com cestas verdes e de alimentos não perecíveis, além de kits de limpeza. “Se conseguir a alimentação [mais básica] já é difícil, imagine frutas”, afirmou. Enquanto era entrevistada pela equipe da revista BOA VONTADE, ela se emocionou ao se lembrar das refeições e de todo o cuidado que seus filhos receberam no Centro Comunitário de Assistência Social da Entidade. “Meus filhos participaram da LBV, foram ‘criados’ lá. Hoje, minha filha tem uma bebê, que também fará parte das atividades [após a pandemia]. Dos 7 aos 15 anos, eles estiveram [no serviço Criança: Futuro no Presente!]. Então, só tenho que agradecer à LBV.”

Ellida Santos

O Centro Comunitário da Legião da Boa Vontade em Nova Friburgo/RJ — cidade polo na produção de gêneros livres de agrotóxicos — recebe quinzenalmente frutas, verduras e legumes do Banco de Alimentos do Estado. Entre os itens mais frequentes, constam alfaces americanas, crespas e lisas, todas orgânicas, tangerinas, morangos, goiabas e outras frutas sazonais. Ao todo, desde que a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil, a unidade da LBV já recebeu mais de quatro toneladas de variedades de hortifrúti, que são destinadas, de forma alternada e escalonada, a dezenas de famílias atendidas na localidade.

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Adriana Pereira, mãe de dois filhos que participam das atividades socioeducacionais na Entidade, está afastada do emprego. Ao receber os benefícios da campanha SOS Calamidades em setembro, declarou: “Sou grata à LBV pelo suporte que está nos dando diante desse caos que vivemos. Estou aqui pegando meus legumes e a cesta de alimentos [não perecíveis], que estão sendo muito, muito importantes. Não tenho nem palavras para agradecer o que estão fazendo [pela nossa alimentação]. Que Deus abençoe essa Instituição! E vamos vencer [a pandemia], em nome de Jesus!”

Diego Ciusz

José Gonçalo

O Rede Sociedade Solidária, programa da Legião da Boa Vontade de assessoramento e de defesa e garantia de direitos, oferece capacitações e suporte gratuito e especializado a organizações da sociedade civil, a fim de esclarecer trabalhadores e voluntários delas a respeito dos direitos expressos na Constituição Federal e de fortalecer o sistema de proteção social no país.

Atualmente, 280 instituições de todas as regiões brasileiras e dos mais variados segmentos integram essa rede de apoio da LBV. Graças a ela, está sendo possível identificar, prioritariamente, as comunidades que precisam de maior ajuda durante a pandemia da Covid-19. Assim, todas as organizações assessoradas antes da crise sanitária e as novas integrantes do programa estão participando da campanha SOS Calamidades, intermediando a entrega de donativos a cidadãos de suas respectivas localidades. Essas pessoas residem próximas a antigos aterros sanitários, em locais sem saneamento básico, em ocupações, cortiços, pensões, aldeias indígenas ou quilombolas, entre outros espaços onde a vulnerabilidade social é marcante.

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De acordo com Regina do Nascimento, gestora de inovação social da Legião da Boa Vontade, “as instituições assessoradas e as lideranças comunitárias são contatadas mensalmente para a retirada ou o recebimento em suas comunidades de cestas de alimentos e kits de higiene e de limpeza. Há um esforço contínuo, inclusive de voluntários, para a montagem desses kits, entregues a cada mês.  Para receberem, são agendados os dias e os horários com antecedência, de modo que sejam cumpridas as normas de segurança e higiene na prevenção e no combate ao novo coronavírus”.

O Instituto Inclusão e Desenvolvimento pelo Esporte (IDE), que fica no Jardim Gramacho, em Duque de Caxias/RJ, é um dos contemplados pela campanha. O bairro onde se encontra, cabe assinalar, abrigava o maior lixão da América Latina entre 1978 e 2012. No dia 1° de setembro, o líder dessa organização, Anderson Leite, esteve no Centro Educacional José de Paiva Netto, na cidade do Rio de Janeiro, para buscar 50 cestas de alimentos não perecíveis e 50 kits de limpeza a participantes dos projetos que comanda, a exemplo da alfabetização de adultos.

“[Para] pessoas que perderam o emprego por conta da pandemia, se não tivessem [o apoio da] LBV, [sobreviver] teria sido mais difícil do que tem sido”, pontua Anderson. “É gratificante ver a alegria, as lágrimas nos olhos [dos nossos atendidos] por receberem o alimento. Nós só temos que agradecer à LBV e a cada colaborador que participa [da campanha] doando. Então, fica aqui o apelo: não deixe de ajudar, porque muitas famílias se alimentam das doações que chegam até nós por meio da LBV.”

Esforço conjunto no Vale do Jequitinhonha

Na mesma data, em Araçuaí/MG, graças à parceria com a Associação de Moradores de Engenheiro Schnoor, foram entregues 76 cestas de alimentos não perecíveis a famílias do distrito, o qual conta com menos de 10 mil habitantes. A população do lugar — que integra o Vale do Jequitinhonha, um dos maiores bolsões de pobreza do Brasil — tem sido beneficiada desde junho e, ao todo, já recebeu quase 300 cestas.

A presidente da associação, Kelly Farias, conta que a realidade da região é de “muita dificuldade em vários aspectos. Muitas crianças e adolescentes não têm lazer e, por isso, acabam usando coisas que não devem [, como drogas]. Aqui é uma comunidade longe da cidade; às vezes as pessoas deixam de procurar algum benefício que têm direito, porque não têm dinheiro para pagar a passagem. Há muita violência, inclusive doméstica. (…) A maioria não tem emprego, ou vive de Bolsa Família ou, então, depende de alguém que é aposentado”. E completou: “As famílias daqui, mesmo sem pandemia, precisam de ajuda. A LBV tem auxiliado bastante a comunidade com as cestas básicas”.

A você, amigo(a) colaborador(a), nossos agradecimentos por confiar no trabalho da Legião da Boa Vontade e viabilizar, com as suas doações, as atividades fraternas da Instituição. Como já faz há mais de 70 anos, a Obra prossegue lutando, obstinadamente, “por um Brasil melhor e por uma humanidade mais feliz!”

Paulo Araújo

A cidade de Miracema/TO possui muitas histórias para contar. Uma delas tem comovido pessoas de todo o Brasil e se passa em uma barraca de lona, na qual o jovem Carlos André Silva ensina crianças vindas das regiões mais pobres da localidade. Lá, basta perguntar onde fica a escola do Carlos André que todos indicam o lugar em que ele reúne 60 meninas e meninos para aprenderem a cada dia um pouco mais. Na Escola Alegria do Saber, como Carlos gosta de chamar, ele usa seus conhecimentos e a vontade de fazer o Bem para repassar conteúdos de Língua Portuguesa, Matemática, entre outras matérias. Para isso, o rapaz, que sonha em se tornar professor, sempre coletou livros e materiais escolares em um lixão, onde juntava também latinhas para vender e comprar merenda a seus aprendizes.

Diego Ciusz
Nem as adversidades meteorológicas, como quando o espaço das atividades é alagado por chuvas e é preciso reconstruir as “salas” de aula, esmorece a perseverança dele, que continua seu trabalho.

Todo esse esforço tem sido recompensado com um futuro melhor para essa garotada e em gestos de empatia, a exemplo do apoio dado pela Legião da Boa Vontade por meio da campanha Criança Nota 10!, entregando mochilas com itens pedagógicos essenciais para cada estudante que participa das atividades. “Há crianças que não têm condições de comprar materiais escolares, e os kits são completos. Eu gostei muito. Tem lápis de cor, pincel, caderno de matéria e artes, régua, caneta, lápis, tesoura, giz de cera… Tudo isso vai servir muito”, comemora o jovem educador.

Em razão da atual crise sanitária, as aulas estão temporariamente suspensas para que se evite aglomerações; mas, com os kits, Carlos acredita que a meninada voltará com maior entusiasmo para aprender após passado esse momento.

Provenientes de famílias em situação de vulnerabilidade social da comunidade Novo Horizonte, essas meninas e esses meninos ainda levaram para suas casas uma cesta de alimentos completa e kits de limpeza entregues pela LBV para ajudar nos cuidados e na prevenção ao novo coronavírus. “Tem muita gente passando fome. Várias pessoas não conseguiram o auxílio [emergencial do governo] e precisam de comida. Durante a pandemia, as coisas vão aumentando [de preço], e aí fica difícil [comprar o que é essencial]”, explica Carlos.

Essa colaboração chega em momento desafiador para a região, que enfrenta a falta de emprego e de renda durante esse período. A máscara, item necessário durante a pandemia, escondeu o sorriso de cada assistido, mas não ocultou a gratidão percebida em cada olhar.

Parabéns, Carlos André, pela disposição em ajudar!

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