O sorriso no rostinho de Maria Eduarda, 7 anos, quando chega ao Centro Comunitário de Assistência Social da Legião da Boa Vontade em Piracicaba/SP revela como uma menina, num período de menos de um ano de convivência na unidade da Instituição, venceu dificuldades. Essa paz no coração foi a maior conquista dela e de sua mãe, Maria Luzeni de Souza Oliveira, 46. “A minha filha se desenvolveu bastante aqui, tanto no modo de falar quanto nas amizades. A Eduarda gosta do local, dos educadores, dos coleguinhas… Está bem mais feliz, comunicativa e educada. Eu só tenho gratidão para com a LBV!”, destaca a genitora.
Duda, como é chamada carinhosamente pela equipe e pelos demais usuários do serviço Criança: Futuro no Presente!, nasceu com Síndrome de Down (SD), e sua mãe teve de cuidar sozinha de sua criação e de seu sustento. A história dessas duas pode ajudar pais, familiares e a sociedade como um todo a superar qualquer tipo de rejeição, pois, se existem algumas limitações em consequência do Down, há também, com o estímulo e incentivo certos, um retorno incrível proporcionado por esses indivíduos.
Foi assim com Maria Eduarda, que inicialmente teve uma superproteção de sua mãe como forma de compensar algumas vulnerabilidades sociais. A atitude natural de Maria Luzeni para tentar salvaguardar a menina foi sendo contornada pela equipe multiprofissional da Legião da Boa Vontade. “Hoje, ela é a própria independência, quer tentar fazer tudo sozinha, e eu deixo. Só quando ela vê que não consegue mesmo é que pede a minha ajuda”, afirma a genitora ao ver a autonomia conquistada por Duda. Após muitas conversas, a formação de uma rede de apoio, envolvendo órgãos do governo e outras organizações da sociedade civil, aos poucos apresentadas pelos profissionais da Instituição, foi essencial para que novos horizontes fossem descortinados. “O psicólogo conversou bastante comigo, e venci certos tipos de medos, de não conseguir ir adiante com a Maria Eduarda, de estar deixando passar certas coisas… Eu ouço o conselho de amigos, como os que recebo aqui na LBV, de que tudo passa, são fases, e isso me conforta e vejo que é verdade”, ressalta.
A assistente social da unidade, Andréa Fernanda Ramos, recorda que a garota tinha dificuldade de se relacionar logo que iniciou no serviço e também “colocava vários objetos na boca, algo comum em crianças menores. Isso era motivo de grande preocupação para a mãe, porque a atendida poderia se engasgar, e a gente conseguiu superar com ela. Além disso, a atendida não se alimentava sozinha nem conseguia manusear certos materiais para as atividades, e a gente tem percebido quanto ela venceu essas fragilidades. Hoje, a Maria Eduarda almoça, toma café da tarde sozinha, escolhe o que quer comer, e não desperdiça; tem uma coordenação motora afinada e está mais organizada, possui uma autonomia grande, sente-se pertencente ao grupo”.
Em outubro do ano passado, um passeio com as crianças e os adolescentes do serviço foi mais um passo relevante nessa trajetória de crescimento. Maria Eduarda nunca havia saído em uma atividade externa sem a figura materna. “Para nós, foi um presente, porque tivemos uma fala significativa da mãe, que autorizou a saída pela confiança que tinha na LBV. A Maria Eduarda ampliou muito a vivência dela, tanto de forma comportamental, expressiva, quanto aproveitou e se integrou à atividade. Era só observar as expressões faciais e corporais dela para ver como ficou contente, e nós, da mesma forma, ficamos felizes por ter oferecido essa oportunidade de ampliação de mundo”, afirma a assistente social.
Afetividade
Outro fato que emociona e dá novo ânimo a Maria Luzeni é ver o carinho dos coleguinhas da garota: “Eu vejo o comportamento das outras crianças com a minha filha, não só os da idade dela, mas até dos bem maiores, que falam com ela: ‘A Duda chegou, que bom!’ Então, fico bastante feliz!”
Luzeni conta que a participação no serviço de convivência da Entidade tem fortalecido habilidades importantes para a vida em comum, habilitando a menina para o convívio em sociedade, fortalecendo, assim, sua autoconfiança. “Meu sonho é a independência dela, que possa trabalhar, estar na sociedade sem exclusão. Que ela seja uma criança como qualquer outra, que siga em frente e seja uma adulta feliz. Se continuar assim, tenho muita fé que conseguirá”, concluiu.