
Com o objetivo de levar à mesa de debates os desdobramentos causados pela pandemia da Covid-19 no âmbito da Assistência Social, visando ao acesso de direitos a todos os brasileiros, além de propiciar ao público momentos de interlocução e de profundas reflexões a respeito dos processos histórico-sociais que fizeram aumentar o fosso da desigualdade social, a Legião da Boa Vontade promoveu a 26ª edição de seu Congresso Internacional de Assistência Social.

Realizado nos dias 30 e 31 de agosto, com o tema “Desigualdade social e pobreza: impactos psicossociais da pandemia”, o evento, transmitido de modo on-line, teve tradução simultânea em espanhol, inglês e Libras (Língua Brasileira de Sinais) e contou com a participação de mais de 4 mil inscritos de 14 países, a exemplo da Argentina, da Bolívia, da Costa Rica, do Equador, dos Estados Unidos, do México, do Paraguai, do Peru, de Portugal e do Uruguai.

Na ocasião, o educador e jornalista José de Paiva Netto, diretor-presidente da Instituição, foi representado por seu filho Alziro Paolotti de Paiva, que ressaltou: “Nossa esperança é a de que as experiências compartilhadas neste congresso possam contribuir para o fortalecimento da Assistência Social, que exerce importante papel na sociedade. (…) Que possamos sair desse encontro mais fortes e preparados para a construção de um mundo mais justo, digno e colaborativo e em que todos tenham oportunidades iguais”.


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Em suas palavras, a sra. Argueta destacou que “a prioridade do Brasil para os próximos anos tem que ser a adoção de intervenções eficazes e focadas na redução da desigualdade para garantir o estado de bem-estar de sua sociedade e impulsionar sua economia. A recuperação do país dependerá dos esforços conjuntos em todos os níveis (local, estadual e federal), para fortalecer os sistemas de saúde, reforçar a proteção social, diminuir o fosso tecnológico e criar oportunidades econômicas sustentáveis”.
Para ela, “a solidariedade e as parcerias público-privadas são fundamentais para criar sistemas de proteção social resilientes, que possam enfrentar choques, criar estratégias para trabalhadores do setor informal e projetar uma nova geração de empregos que apoiem o empreendedorismo”.

E a sra. Argueta completou: “(…) Três elementos são essenciais para uma visão de recuperação duradoura e resiliente. Um: implementar uma abordagem multidimensional coerente para uma resposta com múltiplas dimensões interligadas (saúde, economia, educação, meio ambiente e tecnologia). Dois: desenvolver uma resposta por uma lente de equidade, de inclusão; não pode haver eficiência sem equidade. E três: um planejamento de longo prazo para ajudar as pessoas a construir resiliência para choques futuros”.
Colaborando com a explanação da especialista, um ciclo de debates ao vivo foi promovido. O momento foi mediado pelo sociólogo Daniel Guimarães e Silva, apresentador do programa Sociedade Solidária, da Boa Vontade TV, e contou com a participação de Ionara Rabelo, doutora em Psicologia; Ricardo Bomfim, responsável por Economia Circular da Enel no Brasil; e Antonio Paulo Espeleta, superintendente social da LBV.
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SEGUNDO DIA DE CONGRESSO
No dia 31, Wilson Bigas, gestor do departamento socioassistencial da LBV, discorreu sobre os impactos da pandemia em indivíduos e famílias atendidos pela Instituição. O palestrante apresentou ao público alguns resultados da pesquisa feita pela Entidade, entre 5 e 14 de julho deste ano, com 2.937 pessoas de todas as regiões do país. Elas responderam a algumas perguntas — via questionário on-line, por telefone ou durante visitas presenciais da equipe de referência da LBV — relacionadas a quatro aspectos: trabalho e renda; alimentação e consumo; rotina da família na pandemia; e redes de apoio. Algumas das constatações desse levantamento constam no infográfico abaixo.
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De acordo com Bigas, “a análise dos números obtidos na pesquisa demonstra como é urgente a organização de governos e da sociedade civil, para oferecer programas de acesso à renda e de serviços voltados às populações mais empobrecidas, visando minimizar os impactos dessa crise sanitária e evitar danos permanentes na sociedade”.

Ele ainda reforçou: “Tecer redes de apoio no período de pandemia possui papel primordial no processo de superação deste momento. E esse tem sido o papel da Legião da Boa Vontade em prol de seus atendidos, pois, em sua proposta, a LBV, seguindo todas as orientações normativas dos órgãos oficiais, definiu atividades essenciais e protocolos de segurança, de modo que as ações dos profissionais nas unidades da Instituição continuassem a garantir o acesso dos usuários aos serviços e programas, em espaços onde eles possam ter suas demandas acolhidas, recebendo escutas qualificadas e os encaminhamentos às redes socioassistenciais e de serviços”.


Em seguida, Aldenora González, vice-presidente do Conselho Nacional de Assistência Social, palestrou sobre “A atuação na proteção básica no período pandêmico”. De acordo com a preletora, a atual crise sanitária realçou ainda mais a importância dessa política pública e, ao mesmo tempo, cobrou a adaptação rápida de seus órgãos para atenderem ao aumento de demanda. “Muitas famílias foram atingidas por dificuldades econômicas e sociais, que se apresentam neste momento em decorrência de outros fatores, como o desemprego e o distanciamento social, necessário para o controle da pandemia — o que, com certeza, também gerou grande impacto no convívio familiar/comunitário e nas relações sociais, aumentando ainda mais a responsabilidade e os desafios para garantir a proteção [social]”, explicou.
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Para González, a reorganização da oferta de serviços reforçou quanto é “importante reconhecer a necessidade de se envolver outros parceiros, como a sociedade civil organizada, o setor privado e os conselhos de direitos. É igualmente necessário e relevante que a população participe ativamente das propostas de alteração dos programas que estão em vigor, no sentido de aprimorar o Sistema Único de Assistência Social (Suas)”.
A especialista salientou ao término de sua apresentação: “A proteção social precisa estar presente na vida de todos os brasileiros que estão necessitando dela. É necessário que a gente reforce isso, esse grande compromisso do Suas, o controle social dessa política, para que os usuários que dela necessitem possam receber todos os seus serviços, com dignidade, sem [conotação de pura] caridade, sem troca, de modo justo; ofertando aquilo que o usuário, de fato, tem direito de receber”.

Por sua vez, Marilia Berzins, doutora em Saúde Pública e presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe), tratou do “enfrentamento da Covid-19 e atuação dos abrigos institucionais para idosos”. Em sua palestra, Berzins evidenciou que “o presente e o futuro do Brasil é a velhice, pois já temos 18,6% da população envelhecida, e esse número será cada vez mais significativo. (…) Mas o fato de termos mais pessoas idosas na população não quer dizer que todas elas vivam a sua velhice com dignidade”.

Berzins detalhou a experiência de sucesso do projeto, que proveu, a 614 ILPIs espalhadas pelo território nacional, tablets, testes de detecção do novo coronavírus e insumos como máscaras, álcool em gel 70% e oxímetros, bem como outras doações e a contratação de mais profissionais dedicados a monitorar a saúde do público atendido. Algumas dessas doações contemplaram, inclusive, três abrigos institucionais da LBV. Em suas considerações finais, afirmou: “Envelhecimento é conquista. Precisamos, efetivamente, fundamentar a formulação de políticas públicas a fim de atender às necessidades dos indivíduos que precisam de institucionalização. E, cada vez mais, lembrar que a Constituição Federal nos assegura, através da seguridade social, o direito a uma velhice digna”.
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Ao vivo, o segundo debate do evento foi mediado por Karine Nogueira, doutora em Psicologia e coordenadora de programas sociais da Legião da Boa Vontade, ao lado de dois palestrantes do dia. O 26º Congresso Internacional de Assistência Social, da LBV, foi concluído com painéis produzidos pelas equipes dos abrigos para idosos, apresentando a atuação humanizada da Entidade durante a pandemia.