Contra a desigualdade social e a pobreza

Com mais de 4 mil inscritos de 14 países, Congresso Internacional da LBV debate e compartilha experiências no enfrentamento dos grandes desafios do Brasil

O conteúdo a seguir foi originalmente publicado na edição nº 263 da revista BOA VONTADE. Para conferir a publicação, que é gratuita, acesse: www.revistaboavontade.com.br.

Diego Ciusz

Com o objetivo de levar à mesa de debates os desdobramentos causados pela pandemia da Covid-19 no âmbito da Assistência Social, visando ao acesso de direitos a todos os brasileiros, além de propiciar ao público momentos de interlocução e de profundas reflexões a respeito dos processos histórico-sociais que fizeram aumentar o fosso da desigualdade social, a Legião da Boa Vontade promoveu a 26ª edição de seu Congresso Internacional de Assistência Social.

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Realizado nos dias 30 e 31 de agosto, com o tema “Desigualdade social e pobreza: impactos psicossociais da pandemia”, o evento, transmitido de modo on-line, teve tradução simultânea em espanhol, inglês e Libras (Língua Brasileira de Sinais) e contou com a participação de mais de 4 mil inscritos de 14 países, a exemplo da Argentina, da Bolívia, da Costa Rica, do Equador, dos Estados Unidos, do México, do Paraguai, do Peru, de Portugal e do Uruguai.

Vivian R. Ferreira

Na ocasião, o educador e jornalista José de Paiva Netto, diretor-presidente da Instituição, foi representado por seu filho Alziro Paolotti de Paiva, que ressaltou: “Nossa esperança é a de que as experiências compartilhadas neste congresso possam contribuir para o fortalecimento da Assistência Social, que exerce importante papel na sociedade. (…) Que possamos sair desse encontro mais fortes e preparados para a construção de um mundo mais justo, digno e colaborativo e em que todos tenham oportunidades iguais”.

Vivian R. Ferreira

DivulgaçãoKatyna Argueta, representante residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil e diretora interina do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG).
A palestra inaugural do encontro ficou a cargo da sra. Katyna Argueta, representante residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil e diretora interina do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), vinculado ao Pnud. Na oportunidade, a convidada discorreu sobre a “Recuperação inclusiva e resiliente da Covid-19: para meios de sobrevivência sustentáveis, bem-estar e dignidade para todos: erradicando a pobreza e a fome em todas as suas formas e dimensões para alcançar a Agenda 2030″, temática da 60ª Sessão da Comissão para o Desenvolvimento Social (CSocD60) do Conselho Econômico e Social (Ecosoc), da Organização da Nações Unidas (ONU), a ocorrer em 2022.

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Em suas palavras, a sra. Argueta destacou que “a prioridade do Brasil para os próximos anos tem que ser a adoção de intervenções eficazes e focadas na redução da desigualdade para garantir o estado de bem-estar de sua sociedade e impulsionar sua economia. A recuperação do país dependerá dos esforços conjuntos em todos os níveis (local, estadual e federal), para fortalecer os sistemas de saúde, reforçar a proteção social, diminuir o fosso tecnológico e criar oportunidades econômicas sustentáveis”.

Para ela, “a solidariedade e as parcerias público-privadas são fundamentais para criar sistemas de proteção social resilientes, que possam enfrentar choques, criar estratégias para trabalhadores do setor informal e projetar uma nova geração de empregos que apoiem o empreendedorismo”.

Diego Ciusz

E a sra. Argueta completou: “(…) Três elementos são essenciais para uma visão de recuperação duradoura e resiliente. Um: implementar uma abordagem multidimensional coerente para uma resposta com múltiplas dimensões interligadas (saúde, economia, educação, meio ambiente e tecnologia). Dois: desenvolver uma resposta por uma lente de equidade, de inclusão; não pode haver eficiência sem equidade. E três: um planejamento de longo prazo para ajudar as pessoas a construir resiliência para choques futuros”.

 Colaborando com a explanação da especialista, um ciclo de debates ao vivo foi promovido. O momento foi mediado pelo sociólogo Daniel Guimarães e Silva, apresentador do programa Sociedade Solidária, da Boa Vontade TV, e contou com a participação de Ionara Rabelo, doutora em Psicologia; Ricardo Bomfim, responsável por Economia Circular da Enel no Brasil; e Antonio Paulo Espeleta, superintendente social da LBV.

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José GonçaloAlan Bojanic, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) da Colômbia.
Ainda dentro das atividades desse primeiro dia de evento, falou Alan Bojanic, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) da Colômbia, que discorreu sobre o tema “Segurança alimentar e nutricional e os impactos da pandemia”. “A Solidariedade, como a Legião da Boa Vontade promove, é muito necessária para atender as famílias e para que possamos recuperar [o que foi perdido]. Tivemos retrocessos em relação ao emprego, à renda, ao aumento da extrema pobreza. Vamos voltar ao caminho de desenvolvimento, faz parte desse esforço que temos de fazer. Parabenizo a LBV por essa iniciativa de falar de um tema tão crítico como esse da insegurança alimentar, a necessidade de canalizar recursos, pois os alimentos estão aí. O problema é uma agenda que seja compatível para que haja essa dieta saudável [para todos]. Temos de voltar a caminhar na trilha dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para termos um mundo melhor”, concluiu o representante da FAO.

SEGUNDO DIA DE CONGRESSO

No dia 31, Wilson Bigas, gestor do departamento socioassistencial da LBV, discorreu sobre os impactos da pandemia em indivíduos e famílias atendidos pela Instituição. O palestrante apresentou ao público alguns resultados da pesquisa feita pela Entidade, entre 5 e 14 de julho deste ano, com 2.937 pessoas de todas as regiões do país. Elas responderam a algumas perguntas — via questionário on-line, por telefone ou durante visitas presenciais da equipe de referência da LBV — relacionadas a quatro aspectos: trabalho e renda; alimentação e consumo; rotina da família na pandemia; e redes de apoio. Algumas das constatações desse levantamento constam no infográfico abaixo.

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De acordo com Bigas, “a análise dos números obtidos na pesquisa demonstra como é urgente a organização de governos e da sociedade civil, para oferecer programas de acesso à renda e de serviços voltados às populações mais empobrecidas, visando minimizar os impactos dessa crise sanitária e evitar danos permanentes na sociedade”.

Reprodução

Ele ainda reforçou: “Tecer redes de apoio no período de pandemia possui papel primordial no processo de superação deste momento. E esse tem sido o papel da Legião da Boa Vontade em prol de seus atendidos, pois, em sua proposta, a LBV, seguindo todas as orientações normativas dos órgãos oficiais, definiu atividades essenciais e protocolos de segurança, de modo que as ações dos profissionais nas unidades da Instituição continuassem a garantir o acesso dos usuários aos serviços e programas, em espaços onde eles possam ter suas demandas acolhidas, recebendo escutas qualificadas e os encaminhamentos às redes socioassistenciais e de serviços”.

Diego Ciusz

Vivian R. Ferreira

Em seguida, Aldenora González, vice-presidente do Conselho Nacional de Assistência Social, palestrou sobre “A atuação na proteção básica no período pandêmico”. De acordo com a preletora, a atual crise sanitária realçou ainda mais a importância dessa política pública e, ao mesmo tempo, cobrou a adaptação rápida de seus órgãos para atenderem ao aumento de demanda. “Muitas famílias foram atingidas por dificuldades econômicas e sociais, que se apresentam neste momento em decorrência de outros fatores, como o desemprego e o distanciamento social, necessário para o controle da pandemia — o que, com certeza, também gerou grande impacto no convívio familiar/comunitário e nas relações sociais, aumentando ainda mais a responsabilidade e os desafios para garantir a proteção [social]”, explicou.

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Para González, a reorganização da oferta de serviços reforçou quanto é “importante reconhecer a necessidade de se envolver outros parceiros, como a sociedade civil organizada, o setor privado e os conselhos de direitos. É igualmente necessário e relevante que a população participe ativamente das propostas de alteração dos programas que estão em vigor, no sentido de aprimorar o Sistema Único de Assistência Social (Suas)”.

A especialista salientou ao término de sua apresentação: “A proteção social precisa estar presente na vida de todos os brasileiros que estão necessitando dela. É necessário que a gente reforce isso, esse grande compromisso do Suas, o controle social dessa política, para que os usuários que dela necessitem possam receber todos os seus serviços, com dignidade, sem [conotação de pura] caridade, sem troca, de modo justo; ofertando aquilo que o usuário, de fato, tem direito de receber”.

Bianca Gunha

Por sua vez, Marilia Berzins, doutora em Saúde Pública e presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe), tratou do “enfrentamento da Covid-19 e atuação dos abrigos institucionais para idosos”. Em sua palestra, Berzins evidenciou que “o presente e o futuro do Brasil é a velhice, pois já temos 18,6% da população envelhecida, e esse número será cada vez mais significativo. (…) Mas o fato de termos mais pessoas idosas na população não quer dizer que todas elas vivam a sua velhice com dignidade”.

DivulgaçãoMarilia Berzins, doutora em Saúde Pública e presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe).
A palestrante relembrou que, infelizmente, “as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) também foram impactadas pela pandemia. Lá na Europa houve um número expressivo, abusivo, de pessoas nesta faixa etária que moravam nessas instituições e morreram contaminadas pela Covid-19”. De acordo com ela, houve uma mobilização grande no Brasil para que essa mesma situação não ocorresse por aqui, a exemplo do projeto Todos pela saúde, do qual a Olhe participou, sob a liderança do Itaú Unibanco.

Berzins detalhou a experiência de sucesso do projeto, que proveu, a 614 ILPIs espalhadas pelo território nacional, tablets, testes de detecção do novo coronavírus e insumos como máscaras, álcool em gel 70% e oxímetros, bem como outras doações e a contratação de mais profissionais dedicados a monitorar a saúde do público atendido. Algumas dessas doações contemplaram, inclusive, três abrigos institucionais da LBV. Em suas considerações finais, afirmou: “Envelhecimento é conquista. Precisamos, efetivamente, fundamentar a formulação de políticas públicas a fim de atender às necessidades dos indivíduos que precisam de institucionalização. E, cada vez mais, lembrar que a Constituição Federal nos assegura, através da seguridade social, o direito a uma velhice digna”.

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Ao vivo, o segundo debate do evento foi mediado por Karine Nogueira, doutora em Psicologia e coordenadora de programas sociais da Legião da Boa Vontade, ao lado de dois palestrantes do dia. O 26º Congresso Internacional de Assistência Social, da LBV, foi concluído com painéis produzidos pelas equipes dos abrigos para idosos, apresentando a atuação humanizada da Entidade durante a pandemia.

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