Voluntariado no enfrentamento da Covid-19

Segundo a ONU, 1 bilhão de cidadãos doam seu tempo – e esse contingente está mais requisitado agora!

Vivian R. Ferreira

Arte: Helen Winkler
Neste momento de uma crise sanitária sem precedentes, em que os países enfrentam desafios no combate à pandemia do novo coronavírus, além dos heroicos profissionais da área de saúde, outro grupo se destaca: o das organizações da sociedade civil. Elas têm capitaneado o apoio de variadas frentes em favor dos mais vulneráveis, parte da população que sofre com o perigo da doença, mas também com a ameaça da fome.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os voluntários são frequentemente os primeiros a agir nessas ocasiões. Ainda segundo esse organismo internacional, todos os dias, cerca de um bilhão de cidadãos pelo mundo doam seu tempo e habilidades pelo semelhante, construindo, assim, uma sociedade mais justa e fraterna.

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Para conhecer um pouco mais a respeito do esforço dessas pessoas e saber o que pensam, a equipe da revista conversou com alguns dos voluntários da Legião da Boa Vontade, atuan­tes em diversas ações e que tornam realidade a campanha SOS Calamidades, que já levou mais de 1.080 toneladas de doações para cerca de 173 cidades de todas as regiões brasileiras. O resultado de conectar indivíduos por esses laços de Amor ao próximo e a transformação promovida pela iniciativa, não só na vida dos atendidos, mas também na daqueles que colaboram na atividade, é o que você verá nesta reportagem, que mostra que o voluntariado é uma via de mão dupla, na qual todos ganham.

Arte: Helen Winkler

Para a assistente social Andrea da Hora Paulo, que atua na profissão em uma das localidades mais carentes do Rio de Janeiro/RJ, a comunidade da Vila Vintém, e que há um ano se juntou voluntariamente ao trabalho solidário da LBV, os fatos atuais possuem raízes antigas e também acarretarão desdobramentos relevantes para toda a humanidade. “O coronavírus trouxe uma luz sobre a questão da invisibilidade da pobreza e do subemprego. A pandemia só mostrou o que já existia no Brasil e no mundo”, afirmou ela. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 43% dos domicílios brasileiros receberam, em junho, algum tipo de benefício do governo relacionado à pandemia.

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Segundo ela, “as famílias tiveram de se reajustar à nova ordem econômica mundial, e o trabalho em comunidade e o pensar no outro foram mais valorizados”. Andrea, que se aproximou da Instituição pelo programa Rede Sociedade Solidária, ressalta os aprendizados desde então: “É muito prazeroso doar energia e tempo. Ser voluntária na LBV, para mim, é desenvolver meus talentos, trocar experiências, ter contato humano, conviver e conhecer pessoas diferentes, ser útil e fazer amigos. Você cresce com a LBV, vê na prática o trabalho, a melhora de seu conhecimento. Isso é gratificante”.

Arte: Helen Winkler

A outra boa notícia para ela e para todos nós é que a Solidariedade aumentou exponencialmente, e, com esse compromisso, será possível ajudar a reduzir a imensa desigualdade no país e investir em projetos de sustentabilidade socioambiental. “Um grande legado é desenvolver políticas públicas na pós-crise. Temos de repensar [formas de melhorar] a qualidade de vida [das pessoas], diminuir a quantidade de emissão de gases e o efeito estufa e empoderar novos tipos de vida e de consumo”, disse a assistente social.

Arte: Helen Winkler

Em Natal/RN, três repórteres têm do­cumentado as entregas da campanha SOS Calamidades de forma voluntária. São eles: o fotógrafo Leikson Kleummer e os cinegrafistas Wilson Carvalho e Irã Evangelista. Além de filmarem e capturarem imagens, com o intuito de prestar contas aos colaboradores da LBV, eles estão se descobrindo nesse trabalho e, enquanto acompanham o grupo que leva as doações, atuam em diversas frentes para o sucesso da iniciativa.

Arte: Helen Winkler
Leikson, que está na equipe da Legião da Boa Vontade desde 2018, diz ser “muito bom fazer parte da Instituição e poder propiciar um pouco de alegria a quem tanto necessita”. E completa: “O sentimento das famílias é de gratidão e alívio por ter alimento durante alguns dias em casa”.

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Percepção semelhante tem o cinegrafista Wilson, que aproveita as folgas do emprego para acompanhar a caravana da Boa Vontade a lugares remotos do sertão potiguar, onde a pandemia do novo coronavírus avança. “Temos visto o sofrimento das pes­soas que passam fome. Por isso, prestar esse serviço voluntário é sentir a emoção daquele agradecimento verdadeiro ao entregar o alimento.”

Para quem nunca se engajou em uma ação dessa natureza, Wilson dá um conselho: “Vá e sinta a emoção que é”. E cita o próprio exemplo: “Conheci a LBV quando fiz uma matéria [sobre a unidade em Natal]. Almocei com as crianças, foi bom demais; a partir desse dia mudei meu pensamento quanto às instituições. Vi aqui crianças felizes, educadores ensinando balé, capoeira, me desmanchei com a homenagem que recebi da LBV, me segurei para não chorar”.

Arte: Helen Winkler

Arte: Helen Winkler

Para Eunice de Oliveira Jardim, 72 anos, de Porto Alegre/RS, a aposentadoria foi o momento ideal para fazer o que tinha vontade há muitos anos, mas não encontrava tempo. “Eu conheci a Legião da Boa Vontade por intermédio da minha mãe. O nome dela é Neci Dil de Oliveira, e ela sempre falava [da Instituição]. Quando parei de trabalhar [formalmente], quis ser voluntária. Aprendi a fazer bonecas, costuro, faço panos de pratos.”

Além do apelo afetivo, reforça ela, “a LBV é uma instituição que a gente sabe que é honesta, que a ajuda vai para as pessoas [necessitadas] mesmo. Eu vejo o resultado, as crianças que participam [das oficinas] podem almoçar, tomar café da manhã, todas bem-educadas, isso me fez tomar a minha decisão”.

A atividade no Centro Comunitário e Assistencial da Entidade a mantém ativa, tornando seu dia a dia mais feliz. Mesmo agora, tomando todos os cuidados de afastamento social para se proteger da Covid-19, Eunice encontrou formas de ajudar. Ela aproveitou retalhos que tinha em sua residência, pediu doações a conhecidos e começou a fazer máscaras de tecidos para famílias em situação de vulnerabilidade social amparadas pela Organização. “Já confeccionei 150 máscaras. Acredito que estou fazendo minha contribuição, protegendo quem não tem condições de fazer, de comprar.”

Eunice é também uma agente para que ações em favor do próximo cresçam: “Sempre convido as pessoas para fazer trabalhos voluntários, é uma satisfação tão grande, uma alegria, pois a gente está ajudando o próximo e a si mesmo. Há tantas coisas que se pode fazer uns pelos outros”.

Arte: Helen Winkler

Orgulho e identidade

Ocupar o tempo livre e poder ser útil ao semelhante fizeram com que Íris Silva (foto no destaque), 60 anos, que reside em Piracicaba/SP, se aproximasse da LBV. “Foi muito bom, porque precisava de uma ocupação que me trouxesse benefício, e o trabalho voluntário me traz essa satisfação.”

Ela impressiona pela disponibilidade, está sempre pronta a colaborar seja qual for a atividade. Nesse tempo de pandemia, toma todos os cuidados indicados pelo Ministério da Saúde e consegue dar sua parcela de contribuição. Com frequência, organiza cestas verdes (frutas, legumes e verduras) e de alimentos não perecíveis (separando as quantidades e verificando a validade), kits de higiene e de limpeza; tudo com muito esmero e carinho, para que as doações cheguem às famílias auxiliadas pela Legião da Boa Vontade da melhor forma possível.

Íris não esconde o orgulho e o prazer de atuar voluntariamente: “É algo gratificante, você encontra a felicidade interior”. Quanto à crise sanitária, ela acredita que, apesar de toda a problemática, é um tempo de reflexão. “Na LBV, é bastante compartilhada a importância da família, de cuidar do lado material, mas também do emocional e do espiritual para vencer este momento difícil.”

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