Apesar dos grandes avanços no caminho da igualdade de gênero, em pleno século 21 as mulheres ainda estão sub-representadas nas áreas da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática, campo conhecido pela sigla em inglês STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics). Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), elas são menos de 30% dos pesquisadores em todo o mundo (veja outros números referentes ao tema no infográfico na p. 38).
Também de acordo com essa agência da ONU, a presença feminina pode ser determinante para o planeta superar alguns dos maiores desafios da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável, que inclui, entre outros tópicos, a melhoria do sistema de saúde e o combate à mudança climática. “A diversidade na pesquisa expande o grupo de pesquisadores talentosos, trazendo nova perspectiva, talento e criatividade”, informa o estudo.
Muitos estabelecimentos de ensino, antenados com a necessidade de atender a essas demandas presentes e futuras, preparam pessoas para serem profissionais que satisfaçam tais exigências. As escolas de Educação Básica da Legião da Boa Vontade (LBV), por exemplo, buscam despertar nas crianças e nos jovens vindos de famílias em situação de vulnerabilidade social o interesse e o gosto pelas diferentes esferas do saber humano, incluindo as ciências.
No Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP, a reportagem desta revista conheceu uma das iniciativas relacionadas ao uso do STEM no ensino. Estas objetivam engajar alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio em olimpíadas acadêmicas. E isso está dando certo, pois a escola tem conseguido empolgar um grupo significativo de estudantes, alcançando a paridade de gênero no número de participantes.
Os educadores ressaltam que o envolvimento necessário para vencer os desafios que esse tipo de competição oferece dá maior dinâmica ao estudo, além de deixar os educandos mais aptos a enfrentar as exigências dos exames vestibulares do Ensino Superior e, até mesmo, a ingressar na carreira profissional.
A força do exemplo
Para a estudante, uma das aulas marcou especialmente, pois nesse dia conheceu um pouco sobre a história de vida da cientista polonesa de naturalização francesa Marie Sklodowska Curie (1867-1934). “Ela foi a primeira mulher a receber [o Prêmio] Nobel e a única a ganhar o prêmio em Física [1903] e Química [1911]. Fiquei maravilhada. Eu falei: ‘Nossa, que lindo!’”
A jovem declarou que obteve grande apoio e incentivo dos educadores e dos colegas para participar das olimpíadas. “Eu senti que estava fazendo algo importante, de bom para a sociedade.” Ela completou: “Quando você está fazendo algo dominado pelos homens, não está lutando só por você; está lutando por sua filha, pela sua mãe e por todas as mulheres. Influencia outras pessoas a querer ser melhores”.
Vitória, que sonha em seguir carreira na área de exatas, recordou a felicidade da família com seu bom desempenho nas competições. “Os meus pais vieram do interior e não tiveram muito acesso à educação. Eles viram em mim algo que não puderam ser.”
Estratégias para fomentar o gosto pelas Ciências
Ambas as pedagogias compõem uma vanguardeira linha educacional, criada pelo educador Paiva Netto, que objetiva proporcionar uma educação integral e permeada pelo ensino de valores espirituais, éticos e ecumênicos. Desse modo, há espaço para inovações nas estratégias de ensino. “Por exemplo, eu observo que as meninas conseguem a retenção de conteúdos muito mais ao observar certos fenômenos e fazer links com matérias passadas. Nós, aqui, reforçamos essa habilidade de observar todo o aspecto geral nessas disciplinas”, salientou Juliano.
Outro ponto forte dessa linha de ensino, aplicada nas unidades de atendimento da LBV, é o fato de interligar as áreas da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática em utilizações práticas. “Recentemente, nós levamos tablets para os alunos em uma oficina, em que eles tinham que tirar fotos de perspectivas, [para ter] a ideia de grande, pequeno, alto e baixo. Como a captura da lente da câmera não dá toda a profundidade necessária que os nossos olhos conseguem captar, você tem essa ilusão de ótica ao pegar perspectivas diferentes de prédios altos, pessoas pequenas. Isso desconstrói certos conceitos que eles construíram, e esse é um trabalho importante, porque pior do que não saber um conceito em determinado momento é sabê-lo de forma equivocada. A gente vê que essa mobilização, esse despertar da curiosidade, é fundamental para conquistar a atenção do aluno”, enfatizou Bento.
Influência positiva
Além de contribuir para a melhora da autoestima dos educandos, pelo fato de sentirem que são capazes de galgar novos degraus acadêmicos, a ação provoca nesses jovens um olhar mais amadurecido. “Eles já chegam mais interessados [na classe]. ‘Nossa, eu vi isso na prova. Se tivesse prestado maior atenção nessa aula, teria acertado aquela questão.’ Então, fazer simulados em sala de aula e avaliações externas desperta neles a importância de estar presentes, não só [com] o corpo, mas presentes mesmo, porque sabem que aquilo pode cair no vestibular, no Enem. Eles vêm mais aguçados para adquirir conhecimento”, concluiu Juliana.