As aulas migraram para o universo digital com o fechamento temporário das escolas, mas engana-se quem pensa que a aplicação on-line ou remota dos conteúdos pedagógicos tenha facilitado a vida de professores e alunos.
A crise global de saúde desencadeada pelo novo coronavírus evidenciou as condições desiguais em que se encontram os estudantes do Brasil. De acordo com pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mais de 20 milhões de lares brasileiros não possuem acesso à internet, principalmente entre as classes C, D e E. Tudo isso podemos somar à dificuldade de grande parte dos professores em lidar com as novas tecnologias ou ter à disposição boas ferramentas para gravar as aulas e mesmo a falta do contato direto com os alunos para melhor aplicação dos conteúdos.

Agora, imagine este cenário voltado também a estudantes com dificuldade de aprendizagem, com deficiência intelectual, transtornos ou deficiências auditiva, visual e física. Sim! Na educação inclusiva, os desafios são ainda maiores — presencial e virtualmente.
Trevor O’Brien, doutor em Educação Especial, membro do departamento de Psicologia Educacional e Educação Inclusiva e Especial, da Mary Immaculate College, na Irlanda, explica que, antes de tudo, é preciso entender no que ela está fundamentada.
“A educação inclusiva tem como base a crença na igualdade, direitos humanos e democracia para todos os alunos”, afirma.
Ele tratou o assunto durante sua palestra no 22º Congresso Internacional de Educação da LBV. Em virtude da necessidade de distanciamento social, o evento, que anualmente reúne presencialmente públicos do Brasil e do exterior, teve formato de webinar neste ano.

4 aspectos da Educação Inclusiva
Ao examinar questões atuais na educação inclusiva, O’Brien reflete que o entendimento de quatro tópicos fundamentais, aplicados ao contexto irlandês, facilitariam bastante o trabalho dos professores.
1. Inclusão
Nesse sentido, cabe ao professor e à escola entender, de fato, o que significa INCLUSÃO.
“É uma filosofia muito ampla. Trata-se de igualdade, direitos humanos e democracia para todos os alunos. A educação inclusiva faz parte da filosofia da inclusão, que é fundamentada nos direitos, mas é apenas uma parte disso.”
Toda a criança tem, portanto, o direito de frequentar escolas regulares e cabe ao educador garantir que ela consiga acessar o currículo, usufruí-lo e participar das atividades escolares, atividades acadêmicas e não acadêmicas.
E salienta: “Saber que os alunos aprendem de maneiras diferentes pode ajudá-las a aprender com a diferença e a reagir positivamente à diferença em todas as situações”.
2. Pedagogia
Refere-se às habilidades de ensino, em como o profissional analisa metodologias e pensa em estratégias pedagógicas.
“Os alunos com necessidades educacionais especiais merecem professores capacitados e dotados das habilidades e conhecimentos necessários para oferecer orientação.”
Ao desenvolver suas habilidades pedagógicas, visando à inclusão, o educador conseguirá entender, por exemplo, importância do uso de recursos visuais em uma sala com alunos com necessidades especiais.
“É importante que os professores trabalhem regularmente para aperfeiçoar e apurar suas habilidades, de modo a atender às necessidades de todos os alunos”, pontua.
3. Colaboração
Professores e outros profissionais da escola (como psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais ou tutores, no contexto irlândes) DEVEM atuar em perfeita sintonia. Isto é imprescindível em uma aprendizagem colaborativa.
“É uma competência essencial para todos os professores de educação especial e inclusiva. É vital que os professores tenham as habilidades para trabalhar efetivamente com outros professores e profissionais dentro e fora da escola. (…) Ao atuar em parceria com outros profissionais na sala de aula, estamos atendendo às necessidades de todas as crianças.”
Além disso, o educador irlandês aponta para a importância de as escolas aprenderem a formar e manter parcerias com outras escolas, agências externas e com instituições de ensino superior.
“Há um grande aprendizado para todos nessa comunicação mútua, nessa parceria entre professores e profissionais”, reitera.
4. Prática reflexiva
Termo atual e pertinente, nos dizeres de O’Brien, a prática reflexiva ajuda a observar como os educadores atuam nas escolas, além de identificar maneiras de melhorar essa atuação.
“Ela está interligada com tudo o que tratei aqui. Incentivamos essa prática em nossos professores em treinamento, de que eles precisam constantemente olhar para si mesmos como pesquisadores, como profissionais reflexivos, sempre pensando em maneiras de melhorar sua atuação. Estamos sempre aprendendo. Independentemente do nosso papel na educação, todos nós estamos aprendendo, nos esforçando, sempre buscando maneiras de aprimorar o nosso trabalho.”
Esta análise encoraja os professores a serem pesquisadores ativos em suas próprias escolas, reconhecendo ainda que o aprendizado não termina quando a formação inicial dos professores é concluída.
“Felizmente, na Irlanda, e também no Brasil, há o entendimento de que o aprendizado é contínuo, estamos todos em algum lugar nessa linha contínua, mas nunca chegaremos ao fim dela”, concluiu.
Veja trecho da palestra do Dr. Trevor. O conteúdo na íntegra está disponível apenas para os inscritos no evento.
Recapitulando: o que fazer para garantir uma educação inclusiva?
“Entendemos o que é inclusão. Em seguida, analisamos a pedagogia, a importância das metodologias, estratégias inclusivas, compreendendo que o que é bom para as crianças com necessidades educacionais especiais é bom para todas as crianças. Examinamos a importância de trabalharmos juntos, a experiência colaborativa de professores trabalhando juntos e com outros profissionais. Isso é realmente essencial também.”
“E, finalmente, mas não menos importante, a prática reflexiva. Ao entender que o aprendizado é um empreendimento eterno, estamos todos em algum lugar ao longo dessa jornada, todos temos uma jornada pessoal, mas também uma jornada cumulativa e comunitária, uma jornada coletiva, estamos todos juntos como professores de inclusão”.
Deixe abaixo o seu comentário sobre a palestra do dr. Trevor e a sua experiência em sala de aula para ajudar outros profissionais da área.
Até a próxima!