O impacto da subnutrição em longo prazo

Nutricionista alerta que insegurança alimentar pode levar à queda no rendimento escolar e favorecer quadros de diabetes, obesidade e hipertensão

Com a pandemia do novo coronavírus, 55% dos lares brasileiros têm algum tipo de dificuldade na hora de pôr comida no prato. SAIBA MAIS.

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E a LBV, ciente dessa realidade, ampliou seus serviços e campanha, contando com a solidariedade de seus doadores e voluntários para distribuir alimentos não perecíveis, verduras, legumes e kits de higiene e de limpeza nas regiões mais pobres do país, socorrendo tanto as famílias de seus atendidos como as de outras organizações parceiras.

Desde março de 2020, estamos prestando contas a você deste necessário atendimento, que é um sopro de esperança que faz milhares de brasileiros acreditarem em dias melhores. CONFIRA.

Em entrevista à revista BOA VONTADE nº 263, de setembro de 2021, a nutricionista Lucia Yuri Watanabe, que atua na Escola de Educação Infantil da LBV em Brasília/DF, fala do período preocupante por que passa o nosso país quando o assunto é a nutrição das famílias em situação de vulnerabilidade social, destacando os graves problemas que nossas crianças e nossos jovens podem ter por causa da deficiência alimentar.

José GonçaloNutricionista Lucia Yuri Watanabe, que atua na Escola de Educação Infantil da LBV em Brasília/DF.

BOA VONTADE — Com o aumento da insegurança alimentar, casos de desnutrição crônica têm se tornado recorrentes nas comunidades em vulnerabilidade social. O que isso pode representar para o país?

Lucia Watanabe — Em 2014, o Brasil havia saído do Mapa Mundial da Fome, agora infelizmente está voltando para a lista. São mais de 19 milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza. Com isso, a curva de desnutrição volta a crescer. Não só a desnutrição, mas também a subnutrição e a obesidade, por causa do precário acesso a uma alimentação saudável. Essa situação se agrava com a pandemia do novo coronavírus. Os impactos sociais e econômicos podem levar ao aumento de pessoas a passar fome e até morrer em consequência de um desabastecimento de alimentos.

BV — Quando a gente fala de jovens e crianças, essa condição de desnutrição pode levar a problemas ainda mais graves?

Lucia Watanabe — Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 6,7 milhões de crianças menores de 5 anos podem sofrer definhamento e tornar-se subnutridas, como resultado do impacto socioeconômico provocado pela pandemia do novo coronavírus. O fechamento de escolas em grande parte do país levou à interrupção da merenda escolar, que é fundamental na alimentação da maioria dos alunos da rede pública. A falta de comida em quantidade e qualidade nutricional suficientes pode acarretar em crianças danos neurológicos, problemas de saúde mental e queda no rendimento escolar, além de diabetes, obesidade, hipertensão e maior vulnerabilidade a doenças infecciosas como a Covid-19.

​BV — A gente vê constantemente em atendimentos da LBV famílias que não têm pão, leite e margarina e só conseguem pôr à mesa biscoitos e ainda, por falta de alimentos, pulam refeições. Qual o impacto disso quanto à nutrição?

Lucia Watanabe — O Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014, do Ministério da Saúde, orienta a redução máxima ao consumo de alimentos industrializados, processados. Hoje, mais de 50% dos adultos apresentam quadro de sobrepeso. As pessoas estão ganhando peso com o consumo de industrializados e com grande quantidade de açúcar e gorduras. Em famílias que dependem de alimentos mais baratos, o consumo de produtos açucarados tende a aumentar. A alimentação torna-se desequilibrada, com menos ingestão de micronutrientes como ferro e vitamina A. Pular refeições gera deficiências nutricionais, prejudicando o desempenho.

​BV — Entre as opções mais baratas de mistura, quais as que têm maior valor nutricional? Como tentar levar proteína ao prato dos mais carentes?

Lucia Watanabe — Miúdos de boi e frango são alimentos de alto valor nutricional, possuem considerável quantidade e variedade de vitaminas, antioxidantes e proteínas. São considerados miúdos: coração, fígado, rins, moela, língua, pé de galinha, entre outros. O consumo desses alimentos contribui para a saúde, principalmente na formação dos músculos e ossos, além de serem fontes de vitamina A, que é importante para o crescimento. (…) Conforme aponta o Guia Alimentar para a População Brasileira, arroz, milho, trigo e todos os cereais são fontes importantes de carboidratos, fibras e vitaminas, (principalmente do complexo B) e minerais. Combinados com o feijão ou outra leguminosa, os cereais constituem também fonte de proteína de excelente qualidade.

​BV — A falta de proteína foi um dos motivos pelos quais a LBV passou a acrescentar às cestas de alimentos litros de leite? Qual o público preferencial desse benefício?

Lucia Watanabe — O leite, um dos itens essenciais da cesta entregue pela LBV, beneficia principalmente as crianças, ajudando no crescimento e no desenvolvimento saudável dos ossos, e reforça a alimentação das famílias afetadas com o impacto da pandemia da Covid-19.

​BV — Graças a uma parceria com bancos de alimentos, a LBV tem levado além de gêneros alimentícios não perecíveis, frutas, verduras e legumes. Qual a importância dessa iniciativa?

Lucia Watanabe — Mensalmente, junto com a cesta de alimentos, a LBV também entrega a cesta verde. Essa iniciativa permite a complementação nutricional das refeições das famílias atendidas, possibilitando uma alimentação mais saborosa e balanceada. Uma alimentação equilibrada melhora a saúde, favorecendo o desenvolvimento psicomotor das crianças.


O conteúdo a seguir foi originalmente publicado na edição nº 263 da revista BOA VONTADE. Para conferir a publicação, que é gratuita, clique aqui.

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