Muito além da carreira

Como as duras lições da vida e o amparo recebido na LBV desenvolveram em mim a vocação para a Medicina

Meu nome é Jorgina Escobar, e estou no segundo semestre do curso de Medicina na Universidad Cristiana de Bolívia (Ucebol), em Santa Cruz de la Sierra. Contarei aqui um pouco de minha história de vida e da relação que tenho com o lindo ideal da Legião da Boa Vontade (LBV).

Eu sou brasileira, nascida em São Paulo/SP; porém, meus pais são bolivianos, oriundos da capital do país: La Paz. Eles moravam juntos e almejavam um futuro melhor, quando alguns amigos deles imigraram para o Brasil. Isso os levou a tomar coragem para deixar sua pátria de origem. Na época, o objetivo era ficar dois anos no Brasil e, depois, voltar à Bolívia. Mal sabiam eles que permaneceriam dezoito anos fora.

Em abril de 1998, saíram de La Paz carregando uma pequena mala, mas cheios de grandes sonhos. Ao chegarem ao solo brasileiro, depararam-se com uma realidade bastante diferente da que imaginavam. Ganhavam pouco, tinham qualidade de vida péssima, até pensaram em desistir e retornar à terra natal; entretanto, continuaram trabalhando. Passado um ano, minha mãe engravidou de mim, e isso só foi mais um motivo para perseverar na luta.

Nasci bem pequena. Meus pais até tinham medo de que eu morresse. Em pouco tempo, não pensavam mais em regressar à Bolívia; apenas se concentravam em meu futuro. Com quase 12 anos, na 8a série do ensino fundamental, entrei no Conjunto Educacional Boa Vontade, no bairro do Bom Retiro, na capital paulista. Nesse dia, minha mãe ficou muito feliz. Lembro que ela chorou de emoção, pois conhecia a qualidade do ensino oferecido pela LBV.

O tempo passou rápido, e, num piscar de olhos, cheguei ao ensino médio. A partir daí, comecei a refletir sobre meu futuro, minha faculdade. Eu já havia pensado em fazer Agronomia, Contabilidade, Odontologia, Arqueologia; porém, nunca tinha passado por minha mente estudar Medicina, até que vivenciei uma perda. Isso se deu durante as férias de 2013. Foi o primeiro ano em que toda a minha família voltou à Bolívia, com o intuito de fazer um pouco de turismo e de meus pais matarem as saudades dos familiares e dos amigos que eles deixaram lá.

Nessa viagem, vimos vários lugares maravilhosos; porém, minha mãe teve de passar por um aborto espontâneo, e não sabíamos que estava grávida. Nem ela sabia. Fomos a uma maternidade e descobrimos a gravidez. Fiquei uma semana entre idas e vindas a esse hospital público e presenciei de perto quanto é difícil lidar com a perda de um ser. Além disso, vi a realidade e quanto as mulheres sofriam nessa maternidade. Havia vários casos difíceis, pacientes sem qualquer tipo de assistência…

O quadro clínico de minha mãe piorou, e nós recebemos a notícia de que ela sofria com uma infecção em consequência do aborto. Naquele momento, lembrei-me dos ensinamentos que recebi na LBV e percebi que nada ocorre por acaso. Há sempre algum propósito nos fatos que ocorrem em nossa jornada, sejam eles positivos, sejam negativos.

A saúde dela se restabeleceu, e, voltando das férias, pude viver de maneira plena as últimas séries no colégio. Desde o episódio vivido por minha mãe, comecei a pesquisar sobre Medicina e, no fim do ensino médio, escolhi essa profissão como ideal e como objetivo de vida. A Legião da Boa Vontade formou minha essência de hoje. Superei diversas situações com o conhecimento e as orientações que obtive, ao longo dos anos, na Instituição. Recordo-me das lições de Amor aprendidas, da atenção dos professores e do carinho de meus colegas.

School Picture

Estudar na LBV proporcionou-me conquistas intelectuais e morais. Tornei-me uma pessoa mais fraterna e defensora da Paz. Compreendi o verdadeiro sentido do lema de minha eterna escola: “Aqui se estuda. Formam-se Cérebro e Coração”, conforme ressalta o criador da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico, o educador Paiva Netto.

Escolhi as terras bolivianas para exercer minha profissão, conhecer uma nova realidade e aprender sobre as raízes de minha família. Também conheci a ação da LBV da Bolívia. Fui recebida de braços abertos na Entidade e tornei-me voluntária aqui no país.

Agora, posso estar na Bolívia com qualidade de vida, graças ao esforço de meus pais, que conquistaram vitó- rias e realizaram seus sonhos. Hoje, minha família é grata ao Brasil e à Legião da Boa Vontade, a Instituição que me deu a oportunidade de ser uma pessoa mais madura e de viver em coletivo na prática do Bem, buscando sempre o bem-estar de todos.

 

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