A triste realidade das ruas transforma as pessoas e Larissa* confirmou essa premissa ainda cedo. Aos 12 anos, fugiu de casa para abraçar uma vida de incertezas, fazendo das pontes o seu teto. A decisão, no entanto, não a aliviou de outros sofrimentos. Conheceu as drogas na adolescência. Teve que lutar, ainda jovem, contra a fome. Nas esquinas de Porto Alegre, aprendeu rápido como disputar, pedido a pedido, uns centavos de compaixão dos transeuntes. Quando as moedas eram insuficientes, o jeito era apelar para os “macaquinhos” — sacolas plásticas com restos de comida deixadas em árvores por moradores.

O complicado quadro clínico acendeu o sinal de alerta. Precisava mudar ou teria um destino trágico. Já tinha passado da hora de buscar ajuda. O primeiro passo era se livrar do vício em drogas e reconquistar o carinho da filha, que vivia com uma de suas irmãs. “Ela não estava me reconhecendo como mãe”, conta. O amor incondicional foi determinante para que Larissa recuperasse a capacidade de sonhar.
“A maternidade, para mim, significa esperança, sempre querer um futuro melhor. Se a gente não tiver esperança, não teremos um mundo melhor”, atesta.
Carinho de mãe
Para modificar a própria realidade, Larissa precisou de um auxílio que ia além dos trocados que recebia nas ruas de Porto Alegre. Recuperou-se do vício das drogas, mas a autoestima seguia baixa. A insegurança diante de mais uma gestação — àquela altura já tinha duas crianças — crescia com o passar do tempo. O que fazer? Da clínica que passou a frequentar, veio a indicação.
A Legião da Boa Vontade (LBV) abria mais um grupo de gestantes para o programa Cidadão-Bebê. Não hesitou. Procurou a Instituição e se inscreveu. No primeiro contato com a equipe social da Entidade, a surpresa. Não recebeu olhares de desaprovação ao anunciar o passado nas ruas e o envolvimento com as drogas na adolescência. Pelo contrário, recebeu carinho e conforto. “A primeira vez que eu cheguei aqui já me trataram muito bem”, destaca.

“A Legião da Boa Vontade significa esperança para muita gente que precisa. Quando precisei foi o lugar que recebi o apoio, ela passa muita segurança, carinho e respeito, aqui não importa se você é negro, branco, pobre ou rico, o respeito é o mesmo com todo mundo, são todos iguais, a gente é considerada uma família aqui”, finaliza.
Somando vitórias
O amor materno é capaz de operar mudanças e Larissa também pôde confirmar essa premissa. Hoje, a jovem está livre das drogas, reconquistou a confiança da família e construiu um novo núcleo familiar. Trocou o pedido por esmola pelo ofício de empregada doméstica, com o qual paga as despesas do lar. A caminhada foi árdua, mas a luta para recuperar a dignidade e transformar a própria vida foi vencida. Larissa chegou a um final feliz. Com um sorriso no rosto, não tem vergonha em cravar: “Sou uma sobrevivente”.

“Se eu não conhecesse a LBV, não teria um bom tratamento com os meus filhos, ainda mais quando a gente passa por dificuldade, me ajudou bastante. Aprendi a vencer os desafios e a dar mais valor à vida”, comenta. Para as inúmeras mulheres que passam pela mesma situação, Larissa pontua: “Peço que não desistam, porque aqui na Legião da Boa Vontade o que aprendemos é não desistir. Temos que ter esperança”.
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* O nome da atendida é fictício para preservar sua identidade