Estela Martins de Lima Chaves, de 57 anos, tira proveito de qualquer lição que a vida lhe oferece, transformando os desafios que encontra pelo caminho em oportunidades de crescimento. Se está diante de um obstáculo, não perde tempo com lamentos. Vai à luta. Quanto maior o problema, cresce a sua vontade em transpô-lo. A palavra “desistir” não consta no seu dicionário.
A vida na nova cidade, no entanto, esteve longe de ser tranquila. Estela e o marido não encontraram as oportunidades que ansiavam. A família não tinha meios de se sustentar. A frágil saúde financeira do casal só permitiu a compra de um casebre construído com madeiras velhas, no Jardim Ouro Verde, região periférica do município. “Passei por um período muito difícil da minha vida e não tenho vergonha de falar. Morei por 10 anos em um barraco”, afirma.
Momentos de turbulência
Nenhum período foi tão difícil para Estela e sua família quanto os primeiros meses na Cidade das Andorinhas. A incessante busca por trabalho sempre esbarrava nas negativas dos empregadores. As portas estavam sempre fechadas. Esmorecer? Jamais. Dona Estela não deixou sua perseverança sofrer abalos e a procura, finalmente, foi recompensada. Conseguiu um emprego, mas a tranquilidade não durou muito tempo. Viu-se sozinha com a morte precoce do marido, Gilberto Vicente da Silva, aos 26 anos, em decorrência de um derrame cerebral. “Eu fiquei sem chão, não sabia o que fazer”, pontua.
LEIA TAMBÉM:
+ Mãe vence envolvimento com drogas na adolescência e reconquista família
Sem parentes ou amigos por perto para prestar auxílio, a família voltou a navegar por águas turbulentas. O trabalho de Estela não cobria as despesas do lar. Além disso, coube a ela a redobrada responsabilidade de cuidar da educação dos filhos. A angústia voltou a pairar sob o casebre dos Chaves. No primeiro fim de ano em Campinas, recorda a mãe, a ceia só foi garantida graças a uma mobilização solidária dos moradores do Jardim Ouro Verde.
O novo quadro, contudo, não esfriou o seu coração. Ergue a cabeça e foi à luta. Seria o pai e a mãe daquelas crianças. Estabeleceu-se no trabalho e, finalmente, alcançou a tão sonhada segurança financeira, capaz de fazê-la mudar de ares e comprar uma nova casa. Orgulha-se em dizer que, apesar das dificuldades, nunca faltou comida ao prato dos filhos.
Mãe dos próprios netos
As crianças cresceram e tomaram seus próprios rumos, mas isso não afastou dona Estela de alguns percalços. Passou a sofrer pelas escolhas dos herdeiros. E o seu temor virou realidade quando o filho resolveu trilhar o obscuro caminho das drogas, lançando ainda sombras ao futuro de seus quatro netos. Então, veio a decisão: tomaria conta dos pequenos. Virou mãe outra vez.
“Hoje, graças a Deus, tenho a minha casinha humilde e moro com meu filho e meus quatro netos, que para mim não são netos e sim filhos. Cuido da minha família com muito amor”, comenta.
Uma luz no fim da rua
Com a tarefa de cuidar dos quatro netos, dona Estela foi à luta mais uma vez. Percorreu o bairro em busca de uma escola que lhe transmitisse segurança. Sabia que não podia deixar as crianças à mercê, pois o bairro em que moram é reconhecido pelo violência e pelo fácil acesso às drogas. Não queria para as crianças o destino que o seu filho — e pai dos pequenos — precisou enfrentar.
Andando pelas ruas do Jardim Prolifurb, no ano de 2011, visualizou uma construção. A curiosidade tomou conta de Estela. Aproximou-se e perguntou a um dos pedreiros o que funcionaria naquele local. “O rapaz me disse que em breve seria mais um Centro Comunitário de Assistência Social da Legião da Boa Vontade”, disse. Animou-se com a notícia. Sabia, mais do que ninguém, que o bairro precisava de uma Instituição que cuidasse das crianças da região, afastando-as dos perigos da rua.
A avó não perdeu tempo: quando a Unidade da LBV foi inaugurada, matriculou os quatro netos no programa Criança: Futuro no Presente!. A preocupação deu lugar à segurança. Enquanto estão no Centro Comunitário da Instituição, os pequenos participam de uma série de atividades ricas em experiências lúdicas, recreativas, esportivas e culturais, que propiciam a eles uma formação cidadã, como pede o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Um atendimento, explica, que não está restrito aos netos. Ela garante que toda a família é beneficiada pelo apoio prestado pela Instituição. “A LBV me atendeu com muito amor e carinho”, afirma.
Apoio amigo
Dona Estela se orgulha de cada conquista de sua vida e não deixa de valorizar o apoio que recebeu durante sua caminhada. Ao refletir sobre o auxílio recebido pela Legião da Boa Vontade, a avó não esconde a emoção. Para ela e seus netos, a Entidade é uma extensão da família. “Eu reconstruí a minha família graças ao apoio da LBV. Meu filho e pai dos meus netos não sorria. De dois anos pra cá comecei a ver seu sorriso. Para ser sincera eu tive que reconstruir cinco pessoas, e como faria isso sozinha? Jamais!”.
________________________________________________________
* Com colaboração de Izabela Lobiano e Nathan Rodrigues