O sol desponta na Cidade Maravilhosa, que desperta animada e elétrica ao som dos carros cruzando as avenidas e rodovias. A agitação dos habitantes colore as calçadas, e o bom humor deles dá leveza à correria do cotidiano.
Na rua Miguel Ângelo, Gabriel Monteiro, vestindo seu uniforme amarelo e azul com o coração da LBV, espera com a mãe, Roberta Monteiro, pelo ônibus 679, que os levará a Del Castilho, bairro que abriga sua segunda casa, o Centro Educacional José de Paiva Netto, da LBV no Rio de Janeiro/RJ.

Sua mãe repara em um detalhe que passou despercebido pelo filho. Um misto de alegria e emoção toma conta dela. Em frente ao assento, há o bilhete: “Faça o dia de uma criança feliz. Não sente”. A viagem para a escola será mais tranquila, pensou Roberta aliviada.

Vale destacar uma informação que agrega o devido valor ao fato. A criança carioca, que sempre esbanja simpatia e alegria pelos cantos do colégio, tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ainda na primeira infância, recebeu o diagnóstico e, desde então, enfrenta os desafios decorrentes do TEA.
Um deles é o prejuízo na habilidade do cérebro chamada flexibilidade cognitiva, uma função executiva responsável pela criatividade, pela capacidade de acompanhar e se adequar a mudanças, de solucionar problemas.
Indivíduos com autismo podem apresentar dentro de um padrão social comportamentos repetitivos e a necessidade de manter uma rotina diária rígida. Por isso, quando algo sai do costume, pode-se ver frustrações, aborrecimentos e crises de ansiedade, algo que, no caso do Gabriel, tem sido resolvido com êxito no ambiente escolar, mas difícil de ser evitado no transporte público, principalmente quando seu banco favorito já está ocupado por outro passageiro.
“Eu já escutei coisas que mãe nenhuma quer escutar. (…) O Gabriel já vinha de dois dias muito difíceis, porque essa questão de ele gostar do lugar, e não conseguir sentar-se, para ele estava sendo bem complicado; e quando descia tinha todo o transtorno de ele chorar. E as pessoas viam e não entendiam muito”, desabafa Roberta.
Nos momentos em que não conseguia garantir o lugar, o trajeto para a escola se tornava turbulento, mas eis que uma atitude teve um impacto transformador nas manhãs que se sucederam a esses acontecimentos: com um olhar atento, Gilliard notou a mudança no comportamento do Gabriel e se compadeceu da situação.
“Chegando em casa, fiquei pensando em como é que eu guardaria o lugar. Aí veio a ideia de escrever o bilhete para que as pessoas lessem e ficassem comovidas, porque é uma criança, isso mexe com o coração de qualquer um”, destaca Gilliard.
Assim os passageiros da linha 679 foram convidados a exercer a empatia. Afinal, um gesto de Solidariedade está ao alcance de todos nós. Entender e respeitar as limitações dos outros é dever de cada um na sociedade. No Centro Educacional da Instituição, a boa notícia chegou como mais uma ferramenta no acolhimento de Gabriel, que, desde que se matriculou na unidade, tem revelado um grande progresso estudantil e no relacionamento com os demais colegas.
Tudo isso graças ao Programa LBV — Potencializando Habilidades (PPH), promovido na rede educacional da Entidade, que tem o objetivo de acompanhar o desenvolvimento pedagógico e social dos estudantes que possuem distúrbios de aprendizagem ou diagnósticos diversificados.

Depois do ocorrido, o amigo motorista foi convidado a conhecer a unidade de excelência da Instituição onde estuda o garoto. “Eu fiquei extremamente impressionado com a estrutura da escola, o cuidado com cada aluno, o tratamento com o Gabriel, que é individualizado. Um trabalho de escola de primeiro mundo”, enfatiza.
As palavras finais deste texto ficam a cargo de Gilliard, que aprendeu em casa a importância do cultivo das boas ações: “Ao fazer o Bem, a gente se sente útil para as pessoas. Você pode ser uma pessoa simples, mas, se fizer o Bem a alguém, parece que ganhou rios de dinheiro. (…) Se você mudar sua vizinhança, seu bairro, daqui a pouco já abrange todo o mundo”.
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Esse conteúdo foi publicado, originalmente, na revista BOA VONTADE nº 285, de julho de 2023. Para ler outras matérias publicadas desta edição, clique aqui.