Oque é possível fazer a fim de que as gerações futuras, especialmente as do gênero feminino, estejam prontas, em todos os aspectos, para vivenciar as mudanças no orbe terrestre? Importa, de maneira constante, refletir acerca dessa questão e buscar respostas para ela, sobretudo no ensejo da realização da 61a sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW, na sigla em inglês).
Não é surpresa para ninguém que a empregabilidade está sendo e será, cada vez mais, diretamente influenciada pela globalização, cuidado com o meio ambiente, desenvolvimento sustentável e crescimento demográfico. A estimativa é a de que a população mundial chegue perto dos dez bilhões de habitantes em 2050. Incluem-se neste cenário as modificações radicais por que vem passando e passará a Humanidade, decorrentes da convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.
Os economistas têm chamado a soma dessas modificações de a Quarta Revolução Industrial. “Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”, anuncia Klaus Schwab, fundador e presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial e autor de A Quarta Revolução Industrial, livro lançado em 2016 e que logo se tornou best-seller.
Todos esses fatores estão influenciando as relações humanas em vários níveis, e o mundo do trabalho não escapa a eles. Carreiras e empregos serão criados, e muitos desaparecerão ou evoluirão para algo bem diferente.
LBV Formando Cidadãos Globais
Na visão da Legião da Boa Vontade, a educação exerce papel preponderante na tarefa de preparar as gerações vindouras, especialmente as meninas e as jovens, para estarem aptas para vivenciar essas tendências. Daí os professores da LBV encontrarem na Pedagogia do Afeto (destinada a crianças de até os 10 anos de idade) e na Pedagogia do Cidadão Ecumênico (a quem tem a partir dos 11 anos) as ferramentas necessárias para capacitar os estudantes, de modo a estarem aptos para encarar a realidade desafiadora deste século.
Esses dois segmentos compõem a linha educacional idealizada pelo educador José de Paiva Netto, diretor-presidente da Instituição. De acordo com esse pensamento vanguardeiro, a formação integral do indivíduo deve unir “Cérebro e Coração”. Ou seja: garantir que a aprendizagem não ocorra somente no âmbito do intelecto, mas, sobretudo, no dos sentimentos e das emoções, aliando os aspectos cognitivos aos valores da Espiritualidade Ecumênica.
O MAPREI (Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva), utilizada para a aplicação da proposta educacional da LBV, possibilita ao educando, como o próprio nome evidencia, ser protagonista no processo de aprendizado. Essa habilidade está em sintonia com os desafios do mundo do trabalho, que demanda profissionais multiqualificados, empreendedores e com perfil colaborativo.
Oportunidades iguais nas profissões
Mayara Pinheiro, de 22 anos, é uma das pessoas que foram empoderadas por meio da linha pedagógica da LBV e que apresentam o perfil antenado com o progresso. Aluna egressa do Conjunto Educacional Boa Vontade, localizado em São Paulo/SP, no Brasil, ela se formou em Biomedicina e hoje atua na área de Farmácia. “Comecei [a frequentar a escola da Legião da Boa Vontade] no 6o ano [do ensino fundamental], vinda de uma escola da rede pública, e estudei até a 3ª série do ensino médio na LBV. Basicamente toda a minha formação foi na Legião da Boa Vontade”, conta a jovem.
Tranquila e muito determinada, revela que está estudando para um concurso público na área de perícia criminal. “Estou estudando para dar o meu melhor. A partir do momento em que estou preparada, independentemente de ser homem ou mulher, terão de ver o meu trabalho, não meu gênero. É um setor majoritariamente masculino; porém, nós [mulheres] estamos aqui e vamos vencer.”
O gosto pelo saber também surgiu na trajetória dela na escola da Entidade. “Os professores sempre nos disseram que o que fará a gente mudar o mundo é o estudo, porque, quanto maior conhecimento você tem, mais informações poderá passar para o próximo. Os professores da LBV lecionam por paixão”, salienta.
Todo esse aprendizado modificou a maneira de ela pensar e agir. “Eu cheguei menina na LBV e descobri um mundo diferente, porque a educação na Legião da Boa Vontade não é só ler, escrever. (…) Ela ensina para nossa Alma. (…) O respeito que a gente tem que ter um pelo outro foi algo que adquiri aqui e que levarei onde estiver. Aprendi na LBV a escutar e a respeitar. Eu não concordo, mas respeito. Em minha opinião, o respeito é o que falta hoje em dia na sociedade”, declara.
Desenvolver hoje as habilidades do futuro
O Centro Educacional da Legião da Boa Vontade, situado no bairro de Del Castilho, uma das regiões mais pobres do Rio de Janeiro/RJ, tem apostado em atividades extracurriculares para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. O projeto esportivo de xadrez é exemplo disso. O professor Bruno Pedro Alves, que sugeriu a iniciativa, esclarece: “Eu queria mostrar que a disciplina de Matemática não é esse bicho de sete cabeças; que a gente pode aprender brincando. O xadrez usa o raciocínio, a concentração, e isso não é só na Matemática. Em qualquer outra matéria, o aluno é beneficiado pelo raciocínio rápido, pela memorização”.
Outros aspectos são igualmente relevantes no jogo, pois a garotada, ao conduzir e realizar os arranjos como enxadrista, também recebe lições que servem para toda a vida. Afinal, gerenciar crises, dar importância a todas as peças do jogo, elaborar estratégias e ter um segundo plano são pontos bastante apreciados no perfil de qualquer profissional.
Jéssica de Oliveira França, de 13 anos, aluna do 8o ano do ensino fundamental na escola da LBV na capital fluminense, é apaixonada pelo esporte. Ela e seus três irmãos estão matriculados nesse colégio, e a educação que recebem no local tem transformado para melhor a vida de todos eles. Em julho de 2016, a adolescente foi a vencedora do Prêmio Especial Jovem (categoria para menores de 18 anos), concedido durante o torneio Rápido Fide ( Fédération Internationale des Échecs, organização que regulamenta o xadrez como competição e o ranking), realizado pela Associação Leopoldinense de Xadrez (Alex). “Para mim, foi uma surpresa. Eu não esperava ganhar. Foi muito difícil jogar com pessoas tão experientes”, relata.
Graças ao xadrez, afirma a adolescente: “Aprendi a ficar mais tempo com meus irmãos, a jogar e a ensinar muitas coisas para eles. Assim, o convívio ficou bem melhor”.
O pai de Jéssica, Rogério Theodoro França, que trabalha no ofício de pedreiro, também observa essa melhora. “Desde que entrou [na escola da LBV], teve grande evolução como pessoa e como filha. Fico muito feliz. Os bons valores passados aqui são importantes não só para o crescimento da criança, mas para a família inteira. São ensinamentos que ela vai levar para a vida toda”.
RESILIÊNCIA COMO ATIVO IMPORTANTE
Outro ponto trabalhado pelos educadores da Instituição com os atendidos é a capacidade de resiliência. Para a pedagoga e pós-graduada em Metodologia de Ciências Humanas Aline Braga Trevisan, assistente de direção da escola da LBV na capital paulista, isso é fundamental em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. “Para lidar com situações de pressão, os jovens precisam compreender suas emoções, reações a cada uma delas e qual o impacto delas no outro. Por isso, é contemplada a resiliência como tema transversal para discussão em sala de aula, em todas as disciplinas do currículo ou até mesmo como tema central das aulas de Cultura Ecumênica e Convivência, na rede de ensino da LBV. Essa abordagem, sob a mediação dos educadores, tem proporcionado ao jovem maior segurança nas escolhas”, ressalta a educadora.
De atendida a professora
A partir dos 9 meses, Letícia Brum, de 20 anos, passou a ser atendida pelo Centro Educacional da LBV, do Rio de Janeiro/RJ, período em que a família enfrentava grandes dificuldades financeiras. O incentivo e o exemplo dos educadores foram determinantes para Letícia continuar os estudos e para a escolha da carreira. “Eu falei para minha mãe: eu vou voltar à LBV para trabalhar; vou dar o meu melhor. Fui mantendo aquilo no coração e decidi que seria professora”. Com a graduação em Pedagogia, a jovem candidatou-se a uma vaga na LBV e foi aprovada no processo de seleção. Eu fico muito feliz de participar da criação de um novo mundo, mais solidário. A gente sabe que outros profissionais nascerão dentro desta escola da LBV. É muito bom contribuir para uma sociedade melhor.”