Resiliência para vencer na vida

Como a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico, da LBV, proporcionam ensino de qualidade e despertam em seus alunos valores espirituais, éticos e ecumênicos

Vivian R. FerreiraMirele Sena Cerqueira, de 14 anos, aluna do Conjunto Educacional Boa Vontade, localizado em São Paulo/SP.

Vivian R. FerreiraSuelí Periotto é supervisora da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico e diretora do Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP. Doutora e mestra em Educação pela PUC-SP, também atua como conferencista.
Tendo como bandeira a Educação com Espiritualidade Ecumênica, a rede de ensino da Legião da Boa Vontade esmera-se, durante toda a Educação Básica, em oferecer aos estudantes conteúdo pedagógico que lhes permita alcançar aprovação nos vestibulares mais concorridos do Brasil.

Muitos desses alunos são os primeiros da família a ingressar numa universidade. Daí a importância de fortalecer neles a certeza de que podem ir longe nos estudos e, igualmente, de prepará-los para enfrentar os desafios que poderão surgir no decorrer da vida, entre estes a boa colocação no acirrado mundo do trabalho.

Além disso, a Pedagogia da LBV estimula neles a capacidade de lidar com situações adversas, de superar pressões e obstáculos e de reagir positivamente diante dos problemas, mantendo o equilíbrio psicológico e emocional. Dessa forma, os educandos fortalecem a postura de pessoas mais resilientes.

O público que atendemos vivencia diversificadas situações de vulnerabilidade social, como a pobreza. Inúmeros discentes que ingressam em nossas escolas querem aprender, mas, por chegar desnutridos, têm muitas dificuldades. Outros gostam do ambiente de aprendizagem, porém não acreditam na própria capacidade intelectual. Há aqueles que são sociáveis; contudo, apresentam deficiências e defasagens pedagógicas, geralmente por não ter sido bem alimentados na primeira infância, conforme já vimos ocorrer, diversas vezes, com alunos que nos chegam com 7 ou 8 anos de idade nessas condições. Isso sem falar de situações mais graves.

Diego Ciusz

Recordo-me do caso de um jovem egresso do Conjunto Educacional Boa Vontade — localizado em São Paulo/SP —, que, à época cursando o Ensino Médio, certo dia veio para a escola logo após o irmão ter sido morto na porta de casa. Por conta disso, a mãe dele ligou para a secretaria do colégio e relatou o triste episódio pelo qual a família acabara de passar, pedindo que cuidássemos do seu filho, que viera estudar. Tanto os professores quanto os alunos o ajudaram a lidar com as fragilidades do difícil acontecimento, reiterando ao educando que estavam ali apoiando-o e evitando que ele se sentisse só. Graças ao amparo recebido na LBV, o rapaz obteve forças para perseverar ao longo do ano letivo. Concluiu o Ensino Médio, seguiu cursando o Ensino Superior e graduou-se em Engenharia Elétrica. Não é difícil imaginar o que poderia ter ocorrido se esse jovem não tivesse ido à escola, se não sentisse que seria suficientemente acolhido naquele momento dramático…

Janine MartinsTaguatinga/DF

LBV: APOIO EM TODAS AS HORAS

Assim como o caso exposto, muitas das famílias que assistimos enfrentam desafios peculiares — entre estes a drogadição e a violência doméstica —, os quais costumam interferir na aprendizagem de suas crianças e de seus jovens, exigindo atenção constante da equipe multidisciplinar das nossas unidades de ensino, no intuito de que jamais desistam dos estudos. Esses esforços fazem parte das ações da linha educacional concebida pelo diretor-presidente da LBV, o educador Paiva Netto, composta da Pedagogia do Afeto (direcionada às crianças de até os 10 anos de idade) e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico (aplicada nos planejamentos dos educandos a partir dos 11 anos).

Diego Ciusz

Com conceitos vanguardeiros para uma escola mais humanizada, essa proposta defende a observação mais ampla do comportamento do educando (“uma visão além do intelecto”) e o acompanhamento de aspectos da vida dele além dos muros acadêmicos. Afinal, se as fragilidades e os problemas vividos pelo aluno, dentro e fora da escola, não forem acompanhados e resolvidos por profissionais, poderão impactar negativamente em seu desenvolvimento integral. E não podemos privá-lo do empoderamento que ocorre toda vez que suplanta desafios, fator que lhe possibilitará vencer dramas e ansiedades os quais podem prejudicar a continuidade dos estudos, bem como outros momentos decisivos de sua existência.

A linha pedagógica criada pelo dirigente da Instituição tem se firmado a cada dia, ainda, como uma opção eficaz à evasão escolar, que atinge escolas públicas e particulares* brasileiras, visto que o índice de desistência dos alunos da rede de ensino da LBV é zero. Ela vai muito além, pois também reforça a resiliência dos estudantes, preparando-os para enfrentar e vencer a condição de vulnerabilidade social em que sobrevivem, com a motivação contínua de sempre enxergarem novas possibilidades de melhorar a qualidade de vida deles próprios, de suas famílias e das respectivas comunidades.

COMO FUNCIONA NA PRÁTICA

Para que a proposta educacional da LBV atenda à demanda aqui exposta, os conceitos dela são aplicados nos planejamentos de aulas por meio de um conteúdo de Espiritualidade Ecumênica, desenvolvido no Programa de Eixos Temáticos, elaborado mediante o contexto de vida das nossas crianças e dos nossos jovens, a fim de conciliar o progresso tão necessário do raciocínio ao aprimoramento imprescindível dos bons sentimentos, conforme “uma visão além do intelecto”, idealizada pelo diretor-presidente da Entidade. Esses eixos temáticos são trabalhados concomitantemente com os conteúdos da matriz curricular, resultando em um aprendizado eficaz.

É assim que os professores da Legião da Boa Vontade agregam valores espirituais, éticos e ecumênicos ao currículo escolar, planejando aulas que favorecem a prática de atividades as quais promovem a igualdade de gênero, de classe, de etnia, entre outros pertinentes objetivos de inclusão social e de combate a quaisquer preconceitos.

Debates fraternos e ecumênicos são incentivados nas salas de aula da Instituição, a fim de que o respeito seja um sentimento maior que a tolerância e de que as variadas visões de mundo dos alunos, as quais têm origem nas diferenças culturais, religiosas, étnicas etc., agreguem conhecimento no processo de ensino-aprendizagem. Essa união de saberes é altamente proveitosa, pois desperta no estudante múltiplas reflexões sobre os desafios atuais, fortalecendo a resiliência dele para lidar, a qualquer momento, com situações adversas que induzam ao abandono escolar, ao consumo de substâncias químicas, ao alcoolismo e a tantas outras questões.

Todas as ações realizadas em nossas unidades de ensino se sustentam no Ecumenismo, que inspira toda a nossa proposta pedagógica. A vivência ecumênica pode romper os muros que restringem ou separam os indivíduos por causa dos seus diferentes pontos de vista e favorece, por estimular a união, o trabalho em equipe, estreitando o convívio e o vínculo entre os alunos e tornando-os aptos a viver ética e solidariamente em comunidade.

Assim, a Pedagogia da LBV propõe aos estudantes a vivência de sentimentos não egoísticos, os quais os impulsionam a utilizar seus conhecimentos também em prol das comunidades onde habitam e das pessoas que os cercam.

OFERECER NOVOS HORIZONTES

Ao aliar conhecimento intelectual e bons valores na prática da Educação com Espiritualidade Ecumênica, a LBV demonstra, pela positividade de seus resultados de não evasão, de ambiente escolar sem agressividade e de continuidade acadêmica de seus estudantes egressos, que é possível a todo educando brilhar, mesmo com as dificuldades e os desafios socioeconômicos enfrentados, pois seus talentos e suas possibilidades de mudança são maiores que as condições materiais vigentes. Assim, a postura de resiliência pode significar a chave da transformação esperada nas relações de convivência e de aprendizagem não apenas no ambiente escolar. Essa conduta é reforçada pelo fomento da Cidadania Ecumênica, o qual se dá pela junção de saberes cognitivos e subjetivos, fator que nos permite visualizar o real potencial do aluno — potencial esse identificado em aspectos que ultrapassam as competências mensuráveis ou reconhecidas pedagogicamente.

Diego Ciusz

O dirigente da Legião da Boa Vontade afirma que é necessário enxergar as qualidades do discente, algumas vezes encobertas pela baixa autoestima ou pela falta de oportunidades, para identificar todo o potencial que está no interior dele: o saber que vai além da leitura e do desenvolvimento intelectual. Esse olhar valoriza o educando e o ajuda a melhorar sua capacidade de tomar decisão; a capacitar-se por meio de conhecimentos científicos; a produzir respostas críticas diante dos desafios no mundo do trabalho e nas escolhas pessoais; e a agir contra as estatísticas que assombram a sociedade.

TRANSFORMAÇÃO CAPAZ DE MENSURAR

Como fruto desse trabalho, constroem-se histórias de superação envolvendo nossos alunos, ex-alunos, suas famílias e as respectivas comunidades. Três desses relatos são destacados, em resumo, nesta seção da revista. Em cada um deles, constata-se que a motivação recebida pelos educandos na Instituição lhes permitiu reagir, com olhar crítico e perseverante, à complexidade dos problemas pelos quais passavam.

Por fim, ressalto que a LBV considera que educar com Espiritualidade Ecumênica é consolidar, com qualidade, um ensino que alie o cognitivo ao sentimento dos estudantes, consoante o lema de sua rede de escolas, estabelecido pelo educador Paiva Netto: “Aqui se estuda. Formam-se cérebro e coração”. A linha educacional que ele idealizou faz-nos acreditar nas perspectivas de ampliação dos horizontes acadêmicos, profissionais e pessoais do ser humano, independentemente do fato de este ser proveniente de um lar em situação de risco social ou não.

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* Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação em junho de 2017 revelam que 12,9% e 12,7% dos alunos matriculados, respectivamente, nas primeiras e segundas séries do Ensino Médio no Brasil se evadiram das salas de aula, de acordo com o Censo Escolar realizado entre 2014 e 2015. O nono ano do Ensino Fundamental tem a terceira maior taxa de evasão (7,7%), seguido pela terceira série do Ensino Médio, com 6,8%. (Fonte: portal do Inep.)

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