Declaração da LBV à 65ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres

Confira a seguir o relatório da Legião da Boa Vontade (LBV) encaminhado à 65ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Situação das Mulheres (CSW, na sigla em inglês). O evento ocorre entre os dias 15 e 26 de março e é norteado pelo tema prioritário: “A participação plena e efetiva das mulheres e a tomada de decisões na vida pública, bem como a eliminação da violência, para alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento”. A LBV mais uma vez contribui compartilhando a sua experiência e trazendo exemplos de como tem atuado nesse período de pandemia.

O relatório em inglês você acessa clicando AQUI.

Nós, da Legião da Boa Vontade, encaminhamos nossas recomendações sobre o tema prioritário da 65ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Situação das Mulheres: “Plena e efetiva participação e tomada de decisão na vida pública pelas mulheres, bem como a eliminação da violência, para alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as meninas e mulheres”; assim como sobre o tema de revisão desta conferência: “Empoderamento da mulher e a ligação com o desenvolvimento sustentável”.

Atuamos por intermédio de 95 centros educacionais e de assistência social em sete países: Argentina, Bolívia, Paraguai, Portugal, Estados Unidos, Uruguai e Brasil, onde tudo começou em primeiro de janeiro de 1950, Dia da Paz e da Confraternização Universal. Considerando somente os últimos 5 anos, nós provemos quase 75 milhões de atendimentos e benefícios a pessoas, famílias e comunidades em situação de pobreza, numa extensiva operação humanitária, mesmo durante a pandemia de Covid-19.

Empoderamento para o despertar ambiental

As grandes mudanças comportamentais causadas pela Covid-19 nos fazem refletir de que forma podemos incentivar o aluno a utilizar um novo aprendizado/conhecimento para resolver questões desafiadoras da atualidade, na busca de alternativas e/ou soluções para assuntos individuais e da nossa morada global. Na rede de ensino da Legião da Boa Vontade, na qual aplicamos a Pedagogia do Afeto (destinada a crianças de até 10 anos de idade) e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico (aplicada a partir dos 11 anos), que compõem a linha educacional criada pelo diretor-presidente da Instituição, José de Paiva Netto, acreditamos que o ambiente escolar (seja físico ou virtual) é capaz de cumprir esse papel, pois consideramos o ser humano em sua integralidade, como Espírito Eterno, com uma bagagem espiritual e cultural singular.

Por isso, podemos, sim, falar aos estudantes de proteção da Floresta Amazônica e de nossos demais ecossistemas — mesmo que estejamos em regiões geograficamente distantes — e trabalhar pela preservação deles. Contudo, precisamos também estar atentos ao que se passa com o nosso aluno, dentro e fora dos portões da escola.

Na LBV, atendemos crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, e isso nos leva, entre outros aspectos, a trabalhar de forma mais abrangente ações como essa, com foco no Meio Ambiente.

Afinal de contas, será que todos os educandos se encontram emocionalmente bem, em condição de se encantar com as propostas apresentadas por seus professores? Como falar, por exemplo, da importância de cuidar da Natureza para quem vive em lares sem proteção às vidas que neles habitam, onde a agressividade atinge principalmente as meninas, pelo desrespeito às suas mães, irmãs ou a elas próprias, em circunstância de perigo e/ou abuso? É realmente desafiador planejar e executar qualquer atividade para preservar ecossistemas quando sua própria condição humana corre risco, ainda mais quando se é jovem.

Trabalhar pelo fim da violência

O fato é que a realidade vivenciada por alunas de colégios públicos e privados tem soado como um verdadeiro clamor por amparo e acolhimento, resultante das diversificadas formas de violência que enfrentam. E é pela educação que se tem conseguido o empoderamento delas, quebrando um ciclo de opressão, muitas vezes, estabelecido em gerações anteriores de mulheres de sua família.

Reconhecemos que o papel da escola é não só instrumentalizá-las intelectualmente, de modo que os conhecimentos pedagógicos sejam somados à sua criatividade, mas também apoiá-las psicologicamente, a fim de que superem seus desafios e, consequentemente, se animem a participar de projetos como os que defendem a preservação da Natureza.

Uma instituição de ensino precisa adotar atitudes concretas de cuidado pessoal para a proteção de suas educandas, que demonstrem a elas quanto são importantes, que merecem ser defendidas de situações de agressividade e que possuem capacidade de brilhar academicamente, incentivando-as a desenvolver propostas que ajudem a mitigar, em um futuro próximo, tragédias ambientais em processo, como o desmatamento e os incêndios criminosos.

Na junção de trabalhos de proteção pessoal e de reforço das competências é que a LBV ampara seus atendidos, especialmente as meninas de sua rede de escolas e de seus Centros Comunitários de Assistência Social, de modo que, ao virem seus talentos reconhecidos, tenham fortalecida a autoestima. Para a Legião da Boa Vontade, desde cedo, cabe à escola orientar seus alunos acerca dos caminhos legais de defesa das mulheres, assunto que também diz respeito aos meninos e jovens, uma vez que precisam saber como defender e amparar familiares que passem por tal situação, promovendo, assim, na sociedade a cultura do empoderamento feminino.

Para isso, a equipe multidisciplinar de suas unidades educacionais mantém atenção para um contínuo suporte das estudantes, para que se sintam aptas a reagir aos desafios e sigma em frente, impedindo a solução de continuidade

de sua vida acadêmica, uma vez que a chegada ao Ensino Superior pode fortalecer, ainda mais, a participação feminina na busca da igualdade de competência, na acirrada concorrência a cargos e profissões, que já foram (e podem ainda ser, para alguns) considerados apenas para homens, principalmente se forem postos de chefia.

Assuntos como esses necessitam estar em pauta, ser amplamente discutidos com as novas gerações em sala de aula, a fim de que os preconceitos sejam, de fato, eliminados. São reflexões contínuas a serem mediadas pelos educadores, em parceria com a família, vindo a transformar-se em múltiplas atividades, repercutindo empaticamente no bem dos que fazem parte da sociedade, com a preocupação de abranger a coletividade que compõe a grande morada de todos nós, o planeta Terra.

Está nas mãos da escola direcionar atenção total às suas alunas, futuras profissionais, que merecem ser motivadas a se sentir confiantes de que podem chegar a postos de liderança, apesar das situações de dor que porventura tenham vivenciado, bem como oferecer a essas meninas-educandas, desde a mais tenra idade, alicerces que fortaleçam sua capacidade de resiliência. O trabalho pedagógico e as propostas de pesquisa em sala de aula podem auxiliar na superação de traumas, despertando habilidades e o interesse por profissões que impactem o futuro de outras jovens, em localidades diversas do mundo, que enfrentem as mesmas problemáticas.

A rede de ensino da LBV oferece esses subsídios às educandas, seguindo as premissas do autor da linha pedagógica da Instituição, o educador Paiva Netto, que assim orienta sua proposta: “A mulher, o lado mais formoso da humanidade, singularize o alicerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre. Componentes do gênero feminino se traduzem em elemento preponderante para a sobrevivência das boas causas. Organizações estáveis contam com mulheres estáveis. O meu fito aqui é ressaltar quanto é primacial para a evolução humana e a segurança do mundo a missão da mulher (…)”.

Das carteiras das nossas escolas, registramos o sucesso e a superação pessoal de jovens que chegaram ainda meninas na Legião da Boa Vontade — muitas vivendo situações complexas — e que hoje, atuando com alunos em sala de aula ou exercendo sua profissão fora do ambiente escolar, refletem a resiliência, a bagagem intelectual e a prática do que

adquiriram em projetos nas suas comunidades, num exercício de proteção e de cuidado com a Natureza, como vocês puderam ver ao longo dessa matéria. E temos certeza de que essas sementes irão se multiplicar e render ainda mais frutos.

Empoderamento feminino

De acordo com o Atlas da Violência 2020 (publicado em 2020, com dados de 2018), a cada 2 horas uma mulher é assassinada no Brasil. As principais vítimas de homicídio são mulheres negras, entre as quais a taxa desse crime cresceu 12,4% em dez anos, enquanto, nesse mesmo período (de 2008 a 2018), diminuiu 11,7% entre as brancas. Esses lamentáveis dados não só devem ser motivo de vergonha para nós, mas, sobretudo, mostram a urgência de agir efetivamente para proteger as mulheres no ambiente doméstico, especialmente durante a pandemia.

Atenta a essa realidade e ao fato de as mulheres serem a maioria das beneficiárias de suas ações, a Legião da Boa Vontade empenha-se em promover o empoderamento feminino e em desconstruir a cultura machista. Demonstração disso são as oficinas socioeducativas que ocorrem nos Centros Comunitários de Assistência Social da Instituição sobre igualdade de gênero, relações de gênero no mundo do trabalho, violência doméstica e outros temas afins.

O programa Vivência Solidária, voltado a jovens a partir dos 18 anos e adultos até os 59 anos, promove o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários por meio do convívio social e de atividades que contribuam para a ampliação do universo informacional, artístico e cultural, proporcionando o desenvolvimento de relações de afetividade, de solidariedade e de respeito mútuo.

Nas escolas da LBV, a desconstrução da cultura machista dá-se naturalmente nos momentos de estudo. Conforme surjam oportunidades propícias durante a aula — como, por exemplo, em comentários dos próprios alunos, entre os quais “Essa profissão é só para homens!” —, o professor faz a mediação necessária, de maneira que a turma possa conceber novas perspectivas sobre a incoerência em separar papéis ditos “masculinos” e “femininos”.

No caso da disciplina Convivência, que aborda atualidades e assuntos pertinentes à sociedade, tópicos como “O que é assédio?”, “Lei Maria da Penha” e “Contra a cultura do estupro” são tratados com maior foco, especialmente entre os jovens do Ensino Médio. Os educandos são, até mesmo, incentivados a produzir trabalhos pedagógicos (seminários, peças teatrais, músicas, poemas e outros tipos de criação educativa) acerca de tais objetos de análise.

Essas experiências geram vários resultados positivos, a começar pelos que surgem no círculo de convívio em que está inserido o estudante.

No artigo “Mulheres e tecnologia em prol da Paz”, o diretor-presidente da Legião da Boa Vontade destaca: “(…) educar com Espiritualidade Ecumênica é transformar — e que seja naturalmente para melhor. Reformada a criatura, restaurado estará o planeta”.

Lei Maria da Penha

No Brasil, desde que a Lei no 11.340 foi sancionada, em 7 de agosto de 2006, a realidade processual dos crimes de violência doméstica e familiar no que se refere à punição do agressor tem mudado. Batizada como Lei Maria da Penha, em homenagem à farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes, cuja história de vida a inspirou, a norma cria mecanismos mais rígidos para coibir e prevenir a violência contra a mulher, além de introduzir modificações no Código Penal e na Lei de Execuções Penais.

Por uma sociedade melhor 

Outro exemplo é o programa Rede Sociedade Solidária, realizado pela Legião da Boa Vontade, que proporciona suporte especializado a organizações da sociedade civil a fim de esclarecer os públicos alcançados por elas a respeito da defesa e garantia de direitos expressos na Constituição Federal e de fortalecer o sistema de proteção social brasileiro.

O programa foi aprimorado para alinhar-se ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 17 e à política pública brasileira de assessoramento, defesa e garantia de direitos, estabelecida pelo Conselho Nacional de Assistência Social, de maneira pioneira no mundo, por meio da Resolução nº 27/2011.

Realizado há sete anos, esse programa da LBV leva subsídios a instituições e organizações sociais e transmite orientações técnicas e administrativas a elas, com capacitação e formação de profissionais que atuam no Sistema Único de Assistência Social (Suas) e de lideranças comunitárias e usuários desse sistema.

Ao longo desse período, mesmo durante a crise da Covid-19, a iniciativa tem colhido bons frutos, graças à presença marcante de mulheres. Elas se destacam por uma atuação regionalizada, intersetorial e de grande amplitude em prol do desenvolvimento sustentável.

Somente em 2018, 2.171 organizações da sociedade civil e órgãos públicos receberam treinamentos e cursos na área da Assistência Social oferecidos pelo programa Rede Sociedade Solidária, que impactaram 151.970 pessoas.

Nesta 65ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Situação das Mulheres, parabenizamos todas que contribuíram nesta longa jornada e ratificamos nosso compromisso solidário com a erradicação da desigualdade de gênero no planeta.

 

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