
Desde que a pandemia do novo coronavírus passou a afetar os brasileiros, a Legião da Boa Vontade (LBV) se desdobrou para proporcionar, por meio da campanha SOS Calamidades, alimentação e segurança sanitária a milhares de famílias, em todas as regiões do país, que se encontram em risco social. O atendimento presencial em seus Centros Comunitários de Assistência Social e em suas escolas foi suspenso, mas ainda assim a Entidade pôde promover atividades remotas a crianças, jovens, adultos e idosos, bem como acompanhar a realidade de cada família, sobretudo daquelas que sofrem violação de direitos.

Essa atenção da LBV em garantir a integridade física, psicológica, moral e espiritual de seus atendidos é fortalecida por uma grande rede de apoio com outras instituições do Poder Público, entre elas o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), o Ministério Público e os Conselhos Tutelares. De acordo com Wilson Bigas, gerente do departamento socioassistencial da Legião da Boa Vontade, “o acompanhamento desses casos não é especificamente um objetivo do atendimento da LBV, visto que ela trabalha na proteção básica, e esta tem como premissa a prevenção. Quando a violação ocorre, nosso papel ao identificar a situação é mobilizar a rede socioassistencial para as soluções e desdobramentos dos demais parceiros”.
Em casos mais graves, aproveitando entregas de benefícios (como cestas de alimentos e kits de limpeza), os profissionais da Instituição chegam a fazer visitas presenciais aos lares, seguindo as recomendações de etiqueta respiratória e todos os cuidados com a higienização e o distanciamento físico. Assim, podem observar mais de perto o que sucede e fornecer, de maneira ética e segura, todos os detalhes pertinentes aos órgãos responsáveis por intervir na questão, bem como instruções mais completas aos atendidos. Atualmente, os profissionais da LBV acompanham mais de 400 casos de desrespeito à dignidade humana e de violação de direitos e, ao todo, entre abril e outubro, realizaram 550 atendimentos de psicologia, 4.195 atendimentos sociais e 15.131 atendimentos à distância.

Se o trabalho da LBV em amparar pessoas socialmente vulneráveis já era imprescindível antes da pandemia, tornou-se ainda mais importante durante o resguardo contra a Covid-19. O aumento nos episódios de violência doméstica indica isso. Ao conviverem por mais tempo no mesmo espaço com seus agressores, meninas e mulheres têm corrido maior perigo. Em abril, quando o distanciamento social já durava cerca de um mês, a quantidade de denúncias de violência contra a mulher recebidas no Ligue 180 deu um salto: cresceu quase 40% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH). De abril a junho, somente no Estado de São Paulo, foram registrados 5.559 boletins de ocorrência dessa espécie feitos pelo site da Polícia Civil — o que equivale a uma queixa a cada 23 minutos e 19% do total.

Procurada por Paula, A.M. aceitou receber ajuda. Assim, mãe e filha passaram por acompanhamento social familiar periódico e foram encaminhadas para uma unidade de saúde, para a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) e para o Cras. Como resultado, R.T. deixou a residência; A.M. está sob medida protetiva, vem fortalecendo sua autoestima com uma rotina mais saudável e continua recebendo, por parte da LBV, orientações acerca de seus direitos como cidadã.
LBV salva vidas!

J.S. recebeu acompanhamento familiar com atendimentos periódicos e encaminhamento ao Cras, para suprimento das vulnerabilidades materiais, e ao Creas, a fim de ser apoiada pelo Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Vanessa Marcelly, psicóloga da LBV, colaborou na quebra do ciclo de violência, tratando das emoções da assistida. A especialista conta que “J.S. apresentava marcas psíquicas das violências sofridas com reflexos de baixa autoestima e ideação suicida. Durante o acompanhamento, ela conseguiu se reconhecer e enxergar a relação em que estava, o que lhe possibilitou novas escolhas e oportunidades. Há alguns meses, após diversas tentativas frustradas em estabelecer uma relação saudável, ela se separou do cônjuge”. E completou: “É gratificante notar a confiança ofertada [à atendida]. Ver uma mulher se redescobrir, reconhecer sua importância neste mundo e lutar por ela nos traz esperança”.

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* Acolhida — Primeiro contato entre os profissionais da LBV e as pessoas que recorram a ela em busca de algum atendimento ou benefício. Por meio da Acolhida, a Instituição verifica se poderá ajudar o cidadão de imediato e se os dados dele já se encontram disponíveis no Cras de sua localidade, de modo que o referido órgão esteja a par das necessidades do usuário. Frequentemente, é a própria LBV quem apresenta novos indivíduos ao sistema do Cras, repassando os dados deles e informando-os quanto aos direitos desconhecidos e aos mecanismos para alcançá-los.