
Os educadores são alguns dos profissionais que tiveram de se reinventar para seguir trabalhando nesta fase de distanciamento social: além de terem de se adaptar para ministrar suas disciplinas de modo remoto, passaram também a cumprir demandas que superam em muito o que realizavam no começo do ano letivo, em aulas presenciais. A tarefa não tem sido fácil! A pesquisa “Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do coronavírus no Brasil*”, publicada em março de 2020 pelo Instituto Península, mostra que, desde o início da pandemia, eles têm precisado lidar com a ansiedade de conduzir aulas a distância e com a sobrecarga de ações ligadas à tecnologia, o que antes não se fazia necessário.
A fim de compartilhar ferramentas educacionais e pedagógicas com os docentes para esse novo panorama, o 22º Congresso Internacional de Educação da LBV apresentou o tema “O desafio das aulas remotas e a escola pós-pandemia — Uma visão além do intelecto”. Transmitido pelo canal da Instituição no YouTube (youtube.com/lbvbrasil) — com tradução simultânea em espanhol e na Língua Brasileira de Sinais (Libras) —, o encontro, realizado entre 29 de junho e 1° de julho, ocorreu pela primeira vez no formato webinar, respeitando as normas de distanciamento físico. O evento contou com a participação de mais de 3.500 educadores de 589 localidades de vários países, a exemplo da Argentina, da Bolívia, do Chile, dos Estados Unidos, do México, do Paraguai, de Portugal, da Suíça, do Uruguai e da Venezuela.

Ciclo de palestras
O educador Trevor O’Brien, doutor em Educação Especial e membro do Departamento de Psicologia Educacional e Educação Inclusiva e Especial da Mary Immaculate College (MIC), da Irlanda, abriu, no dia 29, o ciclo de palestras do congresso. Durante sua explanação, apresentou algumas das práticas educacionais de seu país a partir de quatro tópicos: Inclusão, Pedagogia, Aprendizagem Colaborativa e Prática Reflexiva, as quais, segundo ele, podem ser aplicadas em outras nações. “A educação inclusiva tem como base a crença na igualdade, nos direitos humanos e na democracia para todos os alunos. (…) Saber que elas aprendem de maneiras diferentes pode ajudar essas crianças a reagir positivamente à diferença em todas as situações. (…) Os alunos com necessidades educacionais especiais merecem professores capacitados e dotados das habilidades e dos conhecimentos necessários para oferecer orientação”, afirmou aos congressistas.
A propósito, a LBV compartilhou na Irlanda, em março de 2019, sua prática pedagógica com educadores do Centro de Cork, a convite do próprio professor Trevor após conhecer, no fim de 2018, o trabalho de educação inclusiva realizado no Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP.

Na sequência, a psicopedagoga Camila Leon, doutora e mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), realizou a segunda preleção, tratando da importância da saúde mental em tempos de pandemia. Em determinado momento, comparou a atenção que o indivíduo precisa ter com a saúde mental à postura recomendada aos passageiros de um voo em uma situação de emergência: “Todo ser humano que trabalha com outros seres humanos precisa ter a consciência de que a saúde mental deve ser prioridade. [Em uma emergência aérea, por exemplo,] nós precisamos colocar a máscara de oxigênio primeiro em nós para depois conseguirmos ajudar quem está ao redor. [Na vida, é a mesma coisa,] senão as pessoas que convivem conosco ficarão estressadas por conta do nosso nível de estresse”. Ela ainda deu dicas de como aliviar a tensão e de como recorrer, virtualmente ou por telefone, ao auxílio de psicólogos, caso seja necessário.
Por sua vez, a doutora e mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Suelí Periotto, supervisora da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico — que compõem a linha educacional criada pelo diretor-presidente da Legião da Boa Vontade, José de Paiva Netto, aplicada na rede de ensino da Instituição —, discorreu aos participantes sobre a temática central do encontro.
Na oportunidade, ao se referir à volta das aulas presenciais, ressaltou: “A diretriz de Paiva Netto em sua pedagogia é a de que tenhamos ‘uma visão além do intelecto’. (…) Então, como nós iremos fazer esse acolhimento emocional, esse diálogo, mostrar compreensão [e ajudá-los na] adaptação? Pensar nesses seres humanos que retornam pós-pandemia e que não são máquinas, respeitar as suas experiências. O nosso foco imediato é dar suporte para as pessoas”. E concluiu: “Precisaremos pensar em um espaço para professores e alunos conversarem: claro que não significa que tenhamos uma visão romântica ou irresponsável acerca do desafio significativo pela frente, de aproveitar bem o tempo até o final do ano e a distribuição dos conteúdos. (…) Mas uma coisa é certa, não sabemos como será a escola depois desse período, mas ela, com certeza, necessita ser mais solidária”, concluiu.

No segundo dia, foi compartilhada a prática pedagógica da LBV pelas pedagogas Aline Braga, pós-graduada em Metodologia das Ciências Humanas, e Gisela Portilho, pós-graduada em Gestão Escolar e Psicopedagogia Clínica e Institucional. Contemplando o ensino a educandos desde a Educação Infantil até ao 5o ano, o workshop tratou da adequação da matriz curricular, do planejamento e da montagem de aulas, avaliou o envolvimento das famílias na proposta de aulas remotas, entre outros pontos. A mesma mobilização repetiu-se no terceiro e último dia do congresso, tendo as ações práticas com foco nos estudantes das séries finais do Ensino Fundamental e nos do Ensino Médio.
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*O levantamento foi realizado, por meio de questionário virtual, com 2.400 professores de todo o Brasil, das redes privada e pública, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, incluindo diferentes modalidades, como a Educação de Jovens e Adultos (EJA).